Deixaram-me oito horas sozinho à fome e à sede

HISTÓRIAS

Uma criança ainda sem altura para ver a rua pela janela foi deixada num autocarro, sem comida, sem água e nem um adulto por perto. 

Sou um menino de três anos. Fiquei dois meses em casa com os meus pais por causa da Covid-19. Saibam que adorei, mas queria voltar à minha escolinha para brincar com os meus amigos e com a minha professora. No dia em que regressava adormeci e quando acordei estava preso ao banco do autocarro. Não via os outros meninos. Não ouvia vozes. O autocarro estava parado. Fiquei tanto tempo sozinho. Tive tanta fome e tanta sede. Chorei, adormeci, acordei e tornei a chorar. Pensava que os meus pais já não me queriam, até que os vi outra vez. Prendi-me aos seus pescoços e tão cedo não os vou largar.

Agora ouço tanta gente dizer que me encontraram “bem e tranquilo”. Quem se atreve a dizer isso? 

Francamente senhor presidente da Câmara Municipal de Rio Maior. Francamente senhores jornalistas que foram repetindo a lengalenga do autarca que, eu, “a criança estava bem e tranquila”. Um qualquer de vocês experimente ficar amarrado a um banco de um autocarro sem de lá poder sair, sozinho sem saber onde está, sem comida e sem água durante mais de oito horas, mesmo sendo adulto, vejam se ao fim desse tempo estão tranquilos. Pior, eu sou uma criança ainda sem altura para ver a rua pela janela e fui deixado sozinho dentro de um autocarro, sem ter comida, sem ter água para beber, sem um adulto por perto. Têm o desplante de dizer que eu estava tranquilo?

Uma criança de três anos

O prazer do patrocínio

INCAUTOS

 

Bem pode o Presidente da República querer resgatar os meios de comunicação social da depressão económica e da subserviência em que vivem. Se os profissionais continuarem a navegar nos mares da incompetência e da cedência, mesmo com a sua intervenção, a derrocada terminará com o quarto poder no chão.

Um exemplo simples. Há uns dias um jornalista da televisão pública leu uma notícia sobre dois desportistas de saltos para a água, na Índia (em Jodhpur)  de uma altura de uns 20 metros, para um poço ladeado por prédios, a que os habitantes da cidade apelidam de piscina, informando que eles não estavam em competição. Estavam a saltar por “puro prazer”.

O recreio dos dois atletas correu mundo. Ora vejam o que ao jornalista passou despercebido: se quisermos compreender porque se recreavam basta olharmos para a imagem que aqui publico (nem sequer pode ser tida como uma forma de publicidade subliminar), mas quem noticiou, por certo de boa fé, só viu os saltos para a água.

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