Desobrigado, isentado de obrigações, desonerado, mas que, mesmo assim, se obriga a ser sério e, por vezes pode sentir não estar desobrigado e, por isso, pode ir partilhando o que for de partilhar, sobre vivências, observações, leituras e outras informações. Embora possa considerar útil qualquer informação aqui publicada, lembre-se sempre que esta não substitui a consulta aos serviços competentes, conforme a matéria em causa.
As casas a que as pessoas chamam os seus lares matam. Veja-se o que acaba de acontecer na Turquia e na Síria. É isto que sucede quando os edifícios são construídos sem o cumprimento das regras básicas que deviam ser respeitadas escrupulosamente.
As famílias estavam no aconchego das suas casas, onde baixaram todas as guardas que as protegiam lá fora. Tiraram os sapatos, vestiram roupas confortáveis, cozinharam as refeições da família. As crianças vestiram os pijamas quentinhos com que algumas, mesmo assim, felizes, aparecerem saídas dos escombros.
As pessoas dormiam nos seus lares onde tudo devia ser seguro. Pela noite alta veio um estremeção das entranhas da terra e atirou-as para o abismo. Tanta gente ficou sem vida debaixo dos destroços das suas habitações. Outras pessoas ainda hoje estão a ser resgatadas com vida. Muitas crianças são puxadas de entre aquelas lousas com os seus pijamas vestidos e os seus pezinhos descalços.
O que se pode fazer agora? Nada por quem perdeu a vida.
Já era tarde quando as três senhoras se lembraram que não tinham almoçado e uma delas precisava mesmo de comidinha. Estava visto que não podiam adiar muito mais. As compras tinham mesmo de aguardar. Então elas entreolharam-se à espera de sugestões. Foi então que uma, um pouco a medo, sugeriu que tomassem uma refeição ligeira na Ginjinha, no Rossio. A sugestão foi aceite.
Não estavam longe, rapidamente chegaram. Sentaram-se e fizeram os pedidos. Bifanas, batatas fritas e arroz de legumes. Apressaram-se a almoçaram pois começava a fazer vento e estava muito frio. Vinha, então, mesmo a calhar, para fechar a refeição, uma ginja para cada uma. Fizeram sinal à empregada que lhes deu a má notícia, dizendo: “Ginja? Não temos”. As senhoras nem queriam acreditar. Uma delas ainda disse, “mas como é possível? Não há ginja?”.
Nestes dias maus desligo a televisão e volto aos livros.
Eduardo Galeano, o escritor uruguaio, no seu livro, Os Filhos dos Dias, conta trezentas e sessenta e seis histórias, uma por cada dia de um ano bissexto. Todas são interessantes. Já aqui publiquei uma dessas suas histórias.
Hoje reli algumas que tinha assinaladas para vos contar e vou transcrever a que nos dá a conhecer a língua dos assobios da ilha La Gomera, nas Canárias.
“Assobiando, digo”
“O assobio é a língua de La Gomera.
Em 1999, o governo das ilhas Canárias decidiu que nas escolas se estudaria o idioma imortalizado pelo povo que o assobia.
Em tempos idos, os pastores da ilha de La Gomera comunicavam entre si assobiando, desde montanhas distantes, graças às ravinas, que multiplicavam os ecos. Era assim que transmitiam mensagens e contavam novidades, noticias de quem ia e de quem vinha, dos perigos e das alegrias, dos trabalhos e dos dias.
Passaram-se dois séculos, e nessa ilha os assobios humanos, invejados pelos pássaros continuam tão poderosos quanto as vozes do vento e do mar.”
Encontrei a história dos assobios contada pela Globo Play, que tem uma versão ligeiramente diferente quanto ao uso desta língua assobiada, mas confirma que continua a ser usada e que está a ser ensinada nas escolas da ilha. Com a devido vénia à Globo Play, aqui fica o link do vídeo da reportagem, espero que funcione.
Nos nossos dias de hoje, quando julgávamos que pelo menos a Europa tinha aprendido todas as lições proporcionadas pela devastação causada pelas guerras, o pesadelo está de volta. Um país aqui quase ao nosso lado, a Ucrânia, está a ser destruído e as vidas das suas pessoas estão a ser ceifadas sem dó nem piedade.
No nosso país, Portugal, há outro tipo de devastação. Aqui tornou-se moda denegrir as pessoas. Todos os dias vemos magotes de jornalistas que aceleram o passo atrás de políticos apontando-lhes os microfones às costas. Quando vejo os visados mais jovens, a quem a comunicação social não larga, penso nos seus filhos pequenos e no mal que lhes deve fazer ver os pais assim na “praça pública”.
Nestes dias maus, o melhor é desligarmos as televisões e voltarmos aos livros. É o que eu faço quando estou cansada de ver tanta indignidade. Eu sei que a isto de desligar a televisão, por não querer saber mais, se pode chamar “assobiar para o lado”.
Não houve qualquer reação. Esta nem reparou que estava a falar sozinha.
O Partido Social Democrata agendou um debate de urgência no Parlamento, para questionar o Governo sobre a mais recente crise. A urgência era tanta que as bancadas do Governo e do Partido Socialista (PS) falaram, falaram e rapidamente esgotaram o tempo de que dispunham.
Não sei se o fizeram propositadamente, porque queriam ir à tomada de posse dos novos membros do Governo e precisavam de despachar aquilo rapidamente ou se foi mesmo incompetência.
Quem assistiu talvez concorde comigo, aquilo não foi um debate, foi um simulacro. Os deputados da oposição, a maior parte do tempo de que dispunham, levantaram questões e não obtiveram respostas. O Governo e o PS já não tinham tempo.
Não houve qualquer reação por parte da oposição, esta nem reparou que estava a falar sozinha.
O país de aproximadamente cinco milhões de habitantes possui 26 milhões de ovelhas e 10 milhões de vacas. A cada milhão de pessoas correspondem 7,2 milhões de vacas e de ovelhas. Estes animais são ruminantes e expulsam, durante a digestão, através de arrotos e flatulência gases com efeito de estufa, que contribuem para o aquecimento global.
Interesso-me por países ou territórios pouco noticiados ou mesmo desconhecidos. Quando um livro que estou a ler, uma nota de rodapé de uma notícia ou mesmo uma letra de uma canção me sugerem um sítio ignorado, fico como que em alerta e não demoro a procurar saber onde se situa, quais são os países seus vizinhos, como é a sua gente, como vivem essas pessoas, como é a sua cultura, em suma, quero saber tudo. Podia ter acontecido assim com a Nova Zelândia, mas não foi o caso. Este país é há muito tempo meu conhecido, embora ainda não tenha lá chegado e bem gostasse de o fazer. Surge, de vez em quando, nos grandes noticiários, por vezes por tristes razões. Agora foi notícia da Lusa por um assunto que me pareceu um tanto louco. Claro que já sabia que o gado ruminante contribuía fortemente para o aquecimento global. O que me pareceu despropositado foi a Nova Zelândia se propor cobrar um imposto aos agricultores por causa da flatulência e dos arrotos dos seus animais ruminantes.
A notícia levou-me a querer saber mais deste país. Pois estranhei que em vez de reduzir o número de animais a opção fosse a de cobrar mais impostos aos agricultores donos de vacas e de ovelhas que, assim, terão de abrir um pouco mais os cordões às bolsas a favor do Estado neozelandês e eles têm mostrado nas ruas o seu descontentamento.
Lida a notícia surgiu-me logo a pergunta: então desde que paguem mais impostos o gás emitido pelos animais deixa de ser prejudicial ao Planeta? Não parece ser verdade. Se não tem qualquer efeito na redução das emissões de gases com efeito de estufa talvez o erário público do país esteja em dificuldades. Então testei mais esta hipótese. Procurei saber como está classificado o país em termos de desenvolvimento humano, que creio ser um bom indicador para saber a situação económica do país. Então vejam, o seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,937 (muito alto – o máximo é 1). Para que possamos perceber o que representa este este valor comparemos com o IDH de Portugal, onde todos sabemos como vivemos. Este é de 0,866 (mesmo assim, também muito alto)(*).
Vendo bem, depois de saber um pouco mais sobre a Nova Zelândia sou levada a pensar que o país necessita mesmo ver reduzido o número dos seus animais ruminantes, pois quer alcançar a neutralidade carbónica até 2050. Então porque não foi diretamente ao assunto? porque não institui um número de cabeças de gado adequado. Será mais fácil se os agricultores tomarem essa iniciativa?
Já agora deixo aqui mais algumas informações sobre a Nova Zelândia: o país situa-se no Oceano Pacífico (Oceania); a capital é Wellington; é uma monarquia constitucional unitária (Rei, Governadora-geral e primeira-Ministra); tornou-se independente do Reino Unido em 26 de setembro de 1907; a população é de 4 908 420 habitantes (estimativa de 2018); a taxa de alfabetização dos adultos é de 99,9%; as línguas oficiais são o inglês, o maori e a língua de sinais neozelandesa; a moeda oficial é o Dólar neozelandês.
Imagem: Nations on-lineImagem: Por David Eccles (gringer (talk) – obra do próprio (in Wikipédia)
(*)O IDH do país é muito elevado (numa lista de 191 países que são analisados neste Índice está em 13.º lugar e Portugal está em 38º. A revisão do índice foi divulgada em 8 de setembro de 2022, com dados referentes ao ano de 2021, da responsabilidade do PNUD – O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
Parece-me interessante indicar também que a taxa de alfabetização na Nova Zelândia é de 99,9% e a de Portugal é de 89,7% (censos de 2011 – Pordata).
Nos debates na Assembleia da República tenho esperado que António Costa, do alto da sua maioria absoluta, fale à oposição assim: “isto aqui é como nas provas europeias de futebol, onde todos jogam, mas no fim ganha o PS, perdão, ganha a Alemanha”.
Vou direta ao debate do Orçamento Geral do Estado, para o ano de 2023, na Assembleia da República, que, mais uma vez, me causou um certo mal-estar e nem consigo discernir o seu fundamento. A verdade é que não gosto dos ataques da oposição ao PS, principalmente a António Costa. Não sei porque sofro com as suas dores, pois ainda falta uma vez para a primeira para eu votar no seu partido, mas com os tempos que correm, com as posições políticas da minha área de interesse, quem sabe o que pode vir a acontecer, embora seja difícil, se não impossível, atraiçoar-me a mim mesma. Hoje o que é certo é que não aprecio mesmo nada as intervenções da direita e da extrema direita. Se pensar bem, se apelar às minhas memórias mais ou menos recentes, encontro os motivos do meu desagrado.
Não foi assim há tanto tempo, aconteceu nos anos de 2011 a 2015, governavam, então, o PSD e o CDS, houve a crise económica mundial, é verdade, vieram instituições estrangeiras mandar no país e no governo de Portugal, mas todos juntos e de acordo atiraram a crise toda para cima das pessoas.
Agora começo a perceber porque me incomodam tanto as dores do PS. Comparo a situação atual de Portugal com a que o país viveu naqueles anos não muito distantes e não gosto do que vejo lá atrás. Encontro muitas diferenças. Como é o caso da conversa à volta das pensões. A oposição fala de cortes, mas não se pode considerar assim. Honestamente não se lhe pode chamar cortes, pois uma coisa é não dar tudo aquilo que está previsto, não cumprindo a legislação em vigor, é certo, mas a situação impensável é cortar nos valores que estão a ser pagos, isso sim chama-se cortar. Foi isso que fez o governo PSD/CDS.
É certo que os pensionistas e os reformados, em 2023, não vão usufruir do aumento como está previsto na Lei, que devia ser igual ao valor da inflação verificado este ano. Estas pessoas já tiveram um complemento por conta do que deveriam começar a receber em 2023 se lhes atribuíssem o aumento previsto na legislação em vigor. Embora este montante não conte para aumentar o valor das pensões, mesmo assim, houve gente feliz e eu sou testemunha. No ano de 2023 o aumento será da ordem dos 4%. Então o valor da pensão passará a ser o atual acrescido da percentagem do aumento. Reitero que o Governo não vai cortar no valor das pensões isso foi o que fizeram o PSD e o CDS. O Governo não vai aumentar o que devia.
Naquele tempo, cortaram no valor das pensões e no valor das reformas, cortaram subsídios de Natal, não pagaram sequer subsídios de férias, cortaram no valor das prestações sociais, cortaram no valor dos salários. Cortaram e cortaram. Não fizeram nada a favor das famílias que perderam as suas casas para os bancos. Não fizeram nada a favor de quem deixou de poder pagar as rendas de casa. Em suma, não fizeram nada que ajudasse a tirar a carga das costas das pessoas. Para cúmulo, aconselharam os desempregados a emigrar e ainda declararam que Portugal tinha de empobrecer.
Foi então que os mais velhos, os reformados e os pensionistas, que mesmo sofrendo cortes a torto e a direito nos seus rendimentos, chamaram os filhos e os netos de regresso a casa, se assim não tivesse sido o sofrimento teria sido ainda maior. Já agora confirma-se. É por isto que sofro com as dores dos PS.
Quero ainda aqui dizer que aos pensionistas e aos reformados valeu-lhes, naqueles anos maus, o Tribunal Constitucional, que repôs alguma justiça declarando inconstitucionais muitos dos cortes efetuados pelo governo PSD/CDS nas pensões, nas reformas e nos subsídios de férias e de Natal.
Imagem: Desobrigado.com (fotografia captada da TV)
A oposição, em Portugal, é uma tola. Enquanto ela critica as medidas do Governo as pessoas beneficiadas sorriem e dizem de si para si: “sim, diz que já disseste”, dirigindo-se a ela, oposição. Eu sou uma das pessoas sorridentes.
Agrada-me o principio da atribuição de algum dinheiro a quem precisa, mesmo que sejam só 125 € aos adultos e 50 às crianças, sem passar a ideia de que estão a fazer caridadezinha.
“Reunião Plenária – Debate com o Primeiro Ministro sobre política geral 29 de Setembro de 2022, Sala das Sessões – Palácio de São Bento” (in Parlamento.PT).
Acabo de ler um artigo da National Geographic sobre esta praia situada no Algarve, que desconhecia, a sul da praia do Amado. Parece-me uma maravilha. Fui vê-la melhor no sitevisitalgarve.pt e também quero que outras pessoas que, como eu, a desconheçam fiquem curiosas.
Diz-se que é uma praia deserta. A estrada requere viaturas que aguentem rodar em terra batida. Chegados lá, os acessos à praia são fáceis.
Tem uma denominação interessante. Não sei porque a designaram assim. Eu tentei saber de onde vem este nome, murração, e socorri-me do Dicionário Prático Ilustrado, Lello ( edição de 1976) que diz que murra é um mineral de que se faziam vasos preciosos e, ainda, que murra é uma mancha que se produz na pele quando esta se aproxima muito do fogo. Então eu arrisco dizer que o nome da praia foi dada pelas pessoas que para lá iam escaldar.