Oito cêntimos + IVA

Quando eu quiser comprar frutas e legumes, pego no cesto do supermercado e coloco lá um quilo de feijão verde, um quilo de tomate, um quilo de cerejas, um quilo de alperces, um quilo de morangos e tudo o mais de que precisar. Quando chegar à caixa para pagar coloco o cesto em cima do balcão e alguém que se desenrasque.

Oito cêntimos mais IVA. É este o preço do saco de plástico ultraleve. A proteção do ambiente é o fundamento para a cobrança anunciada. Se assim é, porque não os proíbem simplesmente (outros valores mais altos se levantam?). Então, tudo indica, estes saquinhos de plástico vieram e vão ficar.

Então, ainda sobre esta cobrança, peço ao dono da medida que me resolva este problema: se eu quiser comprar um quilo de alperces e usar um saco ultraleve da loja, pago oito cêntimos mais IVA e, depois, quando pesarem o bem, pago o saco outra vez, mas agora ao preço do produto que está lá dentro (diz-me que isto sempre foi assim, então porque instituem outro pagamento?).

Mais um problema para o dono da medida resolver: se eu usar sacos meus para comprar frutas e legumes que não possam ser pesados a granel, quando pesarem os bens pesam, igualmente, o meu saco, então eu passo a paga-lo à loja ao preço do artigo que eu estou comprar? (não me diga que posso pedir para descontarem a tara?).

A minha alternativa, à compra dos sacos ultraleves ou, até, à compra dos meus próprios sacos, quando precisar de frutas e de legumes, pego no cesto do supermercado e coloco lá, por exemplo, um quilo de feijão verde, um quilo de tomate, um quilo de cerejas, um quilo de alperces, um quilo de morangos e tudo o mais de que precisar. Quando chegar à caixa para pagar coloco o cesto em cima do balcão e alguém que se desenrasque. Pois não quero pagar os sacos e voltar a paga-los ao preço dos bens e também não quero pagar os sacos que levar para as compras ao preço dos bens que estou a comprar.

Francamente senhores governantes esta situação é, no mínimo, ridícula. Lembram-se que isentaram de IVA os bens que eram taxados a 6%? Então vejam que agora cobram isso e mais no valor dos sacos ultraleves. Talvez possam continuar a estudar a medida? Não?

Nove médicos, nove saídas para a reforma, mas a notícia é o motim no ministério de Galamba

Aos jornalistas falta-lhes assuntos para noticiar e, por isso, eu quero sugerir peças para o alinhamento nas redações. Hoje proponho um tema que até pode ajudar ao alarido diário em que estão transformados os noticiários em Portugal.

Não sei se alguém reparou que os cidadãos de Alhandra ficaram todos sem médico de família em dezembro de 2022. O Centro de Saúde tinha nove médicos, mas no fim do ano todos tinham passado à situação de reforma.

Eu vi, no passado sábado, as declarações de um utente indignado que integrava uma manifestação noticiada na televisão. Alguém ouviu a repetição desta notícia? Algum canal de televisão abriu os noticiários com esta informação, pelo menos uma vez? Claro que não. O que continua a ser noticiado, há uns quinze dias, é a hora a que Galamba telefonou a António Costa a dar-lhe conta do “motim” no seu ministério. Ainda ontem ouvi uma jornalista perguntar-lhe a que horas lhe tinha telefonado o ministro das infraestruturas. Se tivesse tido resposta, que diabo faria ela com a informação?

Nove médicos, nove saídas para a reforma. Os cidadãos de Alhandra têm zero médicos, mas a notícia continua a ser o “motim” no ministério.

Nove médicos. Nove reformas. Todos os utentes sem médico em Alhandra.

Górgona é real. As bruxas não

Mesmo assim, elas rondaram as janelas da cabana de Ariadne.

Conheci-a na A Ilha dos Jacintos Cortados, um livro de Gonzalo Torrente Ballester.

O Mundo tem recantos inimagináveis, muitas vezes tão perto de nós e, mesmo assim, desconhecidos. Num desses recantos situa-se a ilha de Górgona, que até podia ser uma ficção do escritor, mas é mesmo real. Pertence ao arquipélago toscano, do mar Lígure (Itália) [1]. Tem uma população de 300 habitantes (entre população fixa e autoridades, Wikipédia).

É no meio da população antiga da ilha que Ballester, o escritor espanhol, constrói uma história deveras encantadora, que me fez rir e também sobressaltar. Para ser mais precisa ele conta histórias dentro de histórias. Existe um protagonista que as mostra a uma jovem amiga. Eles partilham uma cabana no meio de um bosque, onde passam algum do seu tempo livre. E, naquele espaço, usufruem de uma bela lareira, onde ele usa o fogo para ver através das labaredas as pessoas da ilha e as suas vivências em tempos muito remotos. Aí vê o desenrolar das histórias e, ao mesmo tempo, conta-as à sua amiga que, assim, vai aprendendo a ver os acontecimentos no fogo.

Eles ainda vêem nas labaredas uma jovem mulher que tem capacidades excepcionais para, nos espelhos do palácio, ver as pessoas, ainda mais antigas, cujas imagens foram neles aprisionadas.

É deveras interessante o desenrolar das histórias dentro das histórias. Só para vos aguçar um pouco a vontade de conhecerem este interessante livro (perdoem-me, pois nem sei se ainda o encontrarão), conto-vos só mais um pouquinho.

Naqueles tempos remotos, na ilha, existiam aliciantes para todos os gostos: mulheres e homens bonitos e poderosos, muitos amores, muitos preconceitos e muita prepotência; um leproso que era a autoridade máxima da ilha (a quem ofereciam mulheres de vez em quando, que morriam de asco na sua presença), ele vivia encerrado no palácio no ponto mais alto da ilha; três bruxas irmãs, duas que viviam há centenas de anos e uma outra que estava morta, mas que voava com as vivas por todo o lado. Elas azucrinavam a vida dos habitantes nas suas vivências mais intimas. Vejam bem, que elas até chegaram a rondar a cabana do protagonista no seu tempo.

Ainda conto um pouco mais: a jovem amiga do narrador (um universitário) é uma estudante que vive como que perdida de amores por outro seu professor, que a prende sentimentalmente, mas que a afasta por incapacidade física e a faz sofrer. Então ela procura consolo junto do protagonista que a acolhe de braços abertos e lhe vai contando histórias em capítulos na cabana do bosque. Quando estavam a ficar mais íntimos as bruxas rondaram as janelas e ofenderam a jovem Ariadne (é este o seu nome), como faziam com todos os amantes.

A Ilha dos Jacintos Cortados, Diffel, edição de 2003, de Gonzalo Torrente Ballester.


[1] Existe outra ilha com este mesmo nome, Górgona, que pertence à Colômbia (onde existiu uma prisão de alta segurança, já desativada), mas Torrente Ballester referia-se mesmo à Górgona que pertence a Itália.

Imagem: Desobrigado

As habitações mataram outra vez – Turquia e Síria

As casas a que as pessoas chamam os seus lares matam. Veja-se o que acaba de acontecer na Turquia e na Síria. É isto que sucede quando os edifícios são construídos sem o cumprimento das regras básicas que deviam ser respeitadas escrupulosamente.

As famílias estavam no aconchego das suas casas, onde baixaram todas as guardas que as protegiam lá fora. Tiraram os sapatos, vestiram roupas confortáveis, cozinharam as refeições da família. As crianças vestiram os pijamas quentinhos com que algumas, mesmo assim, felizes, aparecerem saídas dos escombros.

As pessoas dormiam nos seus lares onde tudo devia ser seguro. Pela noite alta veio um estremeção das entranhas da terra e atirou-as para o abismo. Tanta gente ficou sem vida debaixo dos destroços das suas habitações. Outras pessoas ainda hoje estão a ser resgatadas com vida. Muitas crianças são puxadas de entre aquelas lousas com os seus pijamas vestidos e os seus pezinhos descalços.

O que se pode fazer agora? Nada por quem perdeu a vida.

Não há ginja na Ginjinha

Já era tarde quando as três senhoras se lembraram que não tinham almoçado e uma delas precisava mesmo de comidinha. Estava visto que não podiam adiar muito mais. As compras tinham mesmo de aguardar. Então elas entreolharam-se à espera de sugestões. Foi então que uma, um pouco a medo, sugeriu que tomassem uma refeição ligeira na Ginjinha, no Rossio. A sugestão foi aceite.

Não estavam longe, rapidamente chegaram. Sentaram-se e fizeram os pedidos. Bifanas, batatas fritas e arroz de legumes. Apressaram-se a almoçaram pois começava a fazer vento e estava muito frio. Vinha, então, mesmo a calhar, para fechar a refeição, uma ginja para cada uma. Fizeram sinal à empregada que lhes deu a má notícia, dizendo: “Ginja? Não temos”. As senhoras nem queriam acreditar. Uma delas ainda disse, “mas como é possível? Não há ginja?”.

Mas é possível. A Ginjinha não tem ginja.

ASSOBIAR PARA O LADO

Nestes dias maus desligo a televisão e volto aos livros.

Eduardo Galeano, o escritor uruguaio, no seu livro, Os Filhos dos Dias, conta trezentas e sessenta e seis histórias, uma por cada dia de um ano bissexto. Todas são interessantes. Já aqui publiquei uma dessas suas histórias.

Hoje reli algumas que tinha assinaladas para vos contar e vou transcrever a que nos dá a conhecer a língua dos assobios da ilha La Gomera, nas Canárias.

Assobiando, digo”

O assobio é a língua de La Gomera.

Em 1999, o governo das ilhas Canárias decidiu que nas escolas se estudaria o idioma imortalizado pelo povo que o assobia.

Em tempos idos, os pastores da ilha de La Gomera comunicavam entre si assobiando, desde montanhas distantes, graças às ravinas, que multiplicavam os ecos. Era assim que transmitiam mensagens e contavam novidades, noticias de quem ia e de quem vinha, dos perigos e das alegrias, dos trabalhos e dos dias.

Passaram-se dois séculos, e nessa ilha os assobios humanos, invejados pelos pássaros continuam tão poderosos quanto as vozes do vento e do mar.”

Encontrei a história dos assobios contada pela Globo Play, que tem uma versão ligeiramente diferente quanto ao uso desta língua assobiada, mas confirma que continua a ser usada e que está a ser ensinada nas escolas da ilha. Com a devido vénia à Globo Play, aqui fica o link do vídeo da reportagem, espero que funcione.

https://globoplay.globo.com/v/8380563/

Nos nossos dias de hoje, quando julgávamos que pelo menos a Europa tinha aprendido todas as lições proporcionadas pela devastação causada pelas guerras, o pesadelo está de volta. Um país aqui quase ao nosso lado, a Ucrânia, está a ser destruído e as vidas das suas pessoas estão a ser ceifadas sem dó nem piedade.

No nosso país, Portugal, há outro tipo de devastação. Aqui tornou-se moda denegrir as pessoas. Todos os dias vemos magotes de jornalistas que aceleram o passo atrás de políticos apontando-lhes os microfones às costas. Quando vejo os visados mais jovens, a quem a comunicação social não larga, penso nos seus filhos pequenos e no mal que lhes deve fazer ver os pais assim na “praça pública”.

Nestes dias maus, o melhor é desligarmos as televisões e voltarmos aos livros. É o que eu faço quando estou cansada de ver tanta indignidade. Eu sei que a isto de desligar a televisão, por não querer saber mais, se pode chamar “assobiar para o lado”.

A oposição a falar sozinha no Parlamento

Não houve qualquer reação. Esta nem reparou que estava a falar sozinha.

O Partido Social Democrata agendou um debate de urgência no Parlamento, para questionar o Governo sobre a mais recente crise. A urgência era tanta que as bancadas do Governo e do Partido Socialista (PS) falaram, falaram e rapidamente esgotaram o tempo de que dispunham.

Não sei se o fizeram propositadamente, porque queriam ir à tomada de posse dos novos membros do Governo e precisavam de despachar aquilo rapidamente ou se foi mesmo incompetência.

Quem assistiu talvez concorde comigo, aquilo não foi um debate, foi um simulacro. Os deputados da oposição, a maior parte do tempo de que dispunham, levantaram questões e não obtiveram respostas. O Governo e o PS já não tinham tempo.

Não houve qualquer reação por parte da oposição, esta nem reparou que estava a falar sozinha.

Imagem: LUSA

Nova Zelândia

O país de aproximadamente cinco milhões de habitantes possui 26 milhões de ovelhas e 10 milhões de vacas. A cada milhão de pessoas correspondem 7,2 milhões de vacas e de ovelhas. Estes animais são ruminantes e expulsam, durante a digestão, através de arrotos e flatulência gases com efeito de estufa, que contribuem para o aquecimento global.

Interesso-me por países ou territórios pouco noticiados ou mesmo desconhecidos. Quando um livro que estou a ler, uma nota de rodapé de uma notícia ou mesmo uma letra de uma canção me sugerem um sítio ignorado, fico como que em alerta e não demoro a procurar saber onde se situa, quais são os países seus vizinhos, como é a sua gente, como vivem essas pessoas, como é a sua cultura, em suma, quero saber tudo. Podia ter acontecido assim com a Nova Zelândia, mas não foi o caso. Este país é há muito tempo meu conhecido, embora ainda não tenha lá chegado e bem gostasse de o fazer. Surge, de vez em quando, nos grandes noticiários, por vezes por tristes razões. Agora foi notícia da Lusa por um assunto que me pareceu um tanto louco. Claro que já sabia que o gado ruminante contribuía fortemente para o aquecimento global. O que me pareceu despropositado foi a Nova Zelândia se propor cobrar um imposto aos agricultores por causa da flatulência e dos arrotos dos seus animais ruminantes.

A notícia levou-me a querer saber mais deste país. Pois estranhei que em vez de reduzir o número de animais a opção fosse a de cobrar mais impostos aos agricultores donos de vacas e de ovelhas que, assim, terão de abrir um pouco mais os cordões às bolsas a favor do Estado neozelandês e eles têm mostrado nas ruas o seu descontentamento.

Lida a notícia surgiu-me logo a pergunta: então desde que paguem mais impostos o gás emitido pelos animais deixa de ser prejudicial ao Planeta? Não parece ser verdade. Se não tem qualquer efeito na redução das emissões de gases com efeito de estufa talvez o erário público do país esteja em dificuldades. Então testei mais esta hipótese. Procurei saber como está classificado o país em termos de desenvolvimento humano, que creio ser um bom indicador para saber a situação económica do país. Então vejam, o seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,937 (muito alto – o máximo é 1). Para que possamos perceber o que representa este este valor comparemos com o IDH de Portugal, onde todos sabemos como vivemos. Este é de 0,866 (mesmo assim, também muito alto)(*).

Vendo bem, depois de saber um pouco mais sobre a Nova Zelândia sou levada a pensar que o país necessita mesmo ver reduzido o número dos seus animais ruminantes, pois quer alcançar a neutralidade carbónica até 2050. Então porque não foi diretamente ao assunto? porque não institui um número de cabeças de gado adequado. Será mais fácil se os agricultores tomarem essa iniciativa?

Já agora deixo aqui mais algumas informações sobre a Nova Zelândia: o país situa-se no Oceano Pacífico (Oceania); a capital é Wellington; é uma monarquia constitucional unitária (Rei, Governadora-geral e primeira-Ministra); tornou-se independente do Reino Unido em 26 de setembro de 1907; a população é de 4 908 420 habitantes (estimativa de 2018); a taxa de alfabetização dos adultos é de 99,9%; as línguas oficiais são o inglês, o maori e a língua de sinais neozelandesa; a moeda oficial é o Dólar neozelandês.  

Imagem: Nations on-line

Imagem: Por David Eccles (gringer (talk) – obra do próprio (in Wikipédia)

(*)O IDH do país é muito elevado (numa lista de 191 países que são analisados neste Índice está em 13.º lugar e Portugal está em 38º.   A revisão do índice foi divulgada em 8 de setembro de 2022, com dados referentes ao ano de 2021, da responsabilidade do PNUD – O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

Parece-me interessante indicar também que a taxa de alfabetização na Nova Zelândia é de 99,9% e a de Portugal é de 89,7% (censos de 2011 – Pordata).

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