Bloqueados por cinco cêntimos

Era uma mulher jovem, alta e esbelta. Estava colocada de guarda à máquina dos pagamentos no parque de estacionamento. Tinha iniciado o processo. A máquina não aceitava notas e as moedas não chegaram para pagar a conta.

O homem tinha ido trocar dinheiro e ela ali estava. Impedia o acesso a outras pessoas. Ia dizendo a quem chegava: “Espere um bocadinho, faltam-me 55 cêntimos”.

De imediato, tive vontade de lhe oferecer o dinheiro, mas ela tinha um ar tão altivo. Não o fiz. Receei que se ofendesse. Também me apeteceu dizer-lhe que interrompesse a operação, que a máquina lhe devolveria o cartão e as moedas, mas resolvi aguardar. Eu e todos os outros. Esperámos todos caladinhos.

Passaram uns minutos, ele chegou. Não destoava dela. Impecavelmente vestido. Com camisa branca de corte desportivo e calças escuras. Ar distinto. Voltou rápido, mas não trazia trocos. Com uma nota na mão, foi dizendo para todos nós: “O homem não tem moedas”. O impasse continuava.

Ela resolveu procurar no fundo da mala e encontrou mais umas moedas. Ficaram a faltar cinco cêntimos. Eu já tinha alguma vontade de rir. Tirei a minha carteira e procurei uma moeda para lhes oferecer. Ele não me deu tempo, disse-me: “Tem aí cinco cêntimos que me dê?” Acho que tenho, era isso que eu procurava, respondi-lhe. Dei-lhe a moeda e lá se resolveu a questão.

Quando tirei o meu carro e me encaminhava para a saída, à minha frente estava um carrão branco, um BMW, a sair do estacionamento. Eu no meu Peugeot 208, parei para o deixar sair. Ele no seu BM, topo de gama, já recomposto da cena do pagamento, olhou para mim, sorriu e agradeceu.

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