Uma história com muitas vidas lá dentro

Hoje apetece-me contar um pouquinho, até menos ainda do que isso, de As Sombras de uma Azinheira.

Ouvi, há algum tempo, o autor do livro dizer que este não é autobiográfico, mas enquanto eu o ia lendo via o Laborinho Lúcio nas linhas e nas entrelinhas da sua escrita. Via-o numa das personagens, mesmo quando esta não estava presente ele estava sempre por ali à espreita.

Eu podia contar muito das vidas que por ali vão passando, mas é preferível que abram o livro e o apreciem. Só quero trazer para este texto a protagonista Catarina, que é uma linda e culta mulher. Ela teve duas perdas irreparáveis no dia do seu nascimento. A mãe morreu nesse mesmo dia e o pai virou-lhe as costas, nem a quis conhecer. Mas ela teve uma tia e o seu marido que a foram buscar à maternidade e a criaram como se fosse sua filha.

A Catarina tinha um grande amigo, que todos julgavam ser o seu amor, mas não. Ela era o amor dele, mas ele não era o amor dela. Com o tempo, ele habitou-se a ser o seu maior amigo.

A Catarina teve duas amigas que, essas sim, foram os seus grandes amores. Quando os tios disso souberam foi como se um raio lhes tivesse caído em cima, sendo que a tia foi atingida com muito mais severidade. No dia em que tiveram aquela conversa que tinha que acontecer, ela levantou-se e desapareceu, só muito mais tarde se reaproximaram. Ele, o tio, foi ficando, continuaram a falar e depois, para surpresa da Catarina, disse-lhe que gostava que ela trouxesse a sua amiga a jantar com eles, quanto à tia disse-lhe que não se preocupasse, que falaria com ela. A distância entre os dois ficou, assim, mais curta.

Aquele romance é bonito, é elegantemente descrito. Mesmo quando a primeira relação se desfaz isso acontece com delicadeza. E um novo amor surge na vida da Catarina contado com requinte e ternura.

E, vejam bem, eu que estava a torcer por elas, lá para o fim da história, comecei a ter esperança de que ela ficasse com o seu amigo de sempre. Pensando bem agora, isso não podia ser assim. Laborinho Lúcio, como devem saber, criou uma associação que protege pessoas que costumam ser discriminadas pela sociedade sem mais quê nem porque não (como eu estava a fazer sem pensar nisso). Claro que o fim da história só podia ser aquele que o autor lhe deu.

E eu acabei por gostar da sua sabedoria.

As Sombras de uma Azinheira, de Laborinho Lúcio, da Quetzal

Imagem: Desobrigado.com

Martos existe mesmo

Julguei que o avô de Luís Sepúlveda ficcionava, mas enganei-me. Martos existe mesmo. É uma localidade espanhola da Andaluzia.

O escritor chileno conta, no seu livro Patagónia Expresso, um pouco da sua vida, no seu país sem liberdade. O Chile. Esteve preso e foi torturado. À sua prisão chama “um acidente obsceno”. Embora lhe desagrade, escreve sobre esse tempo.  A vida dos presos políticos e os seis meses que passou na solitária: um buraco com um metro e meio de largura, o mesmo de altura e igual comprimento, onde para esticar o corpo tinha de se deitar enviesado naquele nojo que havia servido para armazenar gordura, quando lá na prisão existiu uma unidade de curtumes.

Sepúlveda fala, também, sobre os homens de cultura que foram encarcerados e da organização destes, lá dentro, na prisão. Os presos, professores universitários dividiam-se por especialidades e faziam palestras a que todos assistiam, incluindo oficiais do exército. Nesta prisão que, referindo as palestras, pode parecer uma prisão com alguma normalidade, mas os prisioneiros eram sujeitos a interrogatórios e torturados por especialistas, muitos provenientes de países estrangeiros.

O comandante da prisão tinha uma verdadeira adoração pelo nazismo. Sepúlveda diz que não escreve o seu nome “por um elementar respeito ao papel”. O escritor foi libertado por influência da Amnistia Internacional. Recorda: “Enchi os pulmões com ar denso de uma liberdade limitada pelo medo de a perder”.

Mas o que eu queria mesmo trazer para este texto era Martos. Acabo de a descobrir no mapa de Espanha, na Andaluzia. Logo no início do livro, Sepúlveda fala sobre o avô que parece ter moldado a sua personalidade. Certa vez ofereceu-lhe o livro, de Nikolai Ostróvsky, Assim Foi Temperado o Aço, quando ele tinha uns 11 anos. Como condições para lhe entregar o presente pediu-lhe que lhe fizesse duas promessas: uma que faria uma grande viagem e a segunda que iria a Martos. Ele prometeu que faria a tal grande viagem e sobre a ida a Martos também disse que sim, mas perguntou-lhe onde ficava Martos. O avô respondeu aqui, batendo com as mãos no peito.

Luís Sepúlveda termina o livro a contar sobre a sua ida a Martos. Entrou num bar que tinha mudado de nome muitas vezes. Ainda havia por lá quem se recordasse do nome no tempo em que o avô tinha colocado aquela terra no coração: Bar de los Cazadores. Afinal Martos existe mesmo. Fica em Espanha, na Andaluzia. Martos é uma cidade sede do município da província de Jaén.

O Tango da Velha Guarda

Acabo de ler o Tango da Velha Guarda, de Arturo Pérez-Reverte (ASA). Não vou contar o enredo. Hoje só vos digo que descreve uma história bastante interessante. Os protagonistas são um homem e uma mulher que se encontram umas três vezes durante as suas vidas e conservam uma paixão ardente. Max e Mecha são dois seres humanos belos. Vestem elegantemente, as suas roupas e acessórios são ricamente descritos pelo autor.

A partir da leitura de um dado número de páginas, quando fechava o livro colocava a contracapa para cima. Incomodava-me a imagem escolhida para a capa. Não tem nada a ver com a Mecha apresentada. A descrita e por mim imaginada era muito mais interessante (isto é subjetivo, eu sei). Mas já a estola nunca é usada pela Mecha (e isto é objetivo). Ela usava colar de pérolas e lenços de seda…

IMG_3127Foto: ing.wook.pt

Maria Trigueira já está entre os nossos amigos livros

Maria Trigueira é a história de uma avó contada pelos desenhos e pela escrita da jovem escritora Ivone Gonçalves.

Ora vejam lá como ela inicia a sua história.

“A avó Maria nasceu na serra:

Maria morena, Maria bonita, Maria do trigo, Maria Trigueira”

Sim, linda história. Simples, bem contada, bem desenhada. Bonita como aquela avó Maria.

A editora é  a Kalandraka. Maria Trigueira já está no mercado, também na Feira do LIvro de Lisboa.

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Dos poucos aos muitos livros

Houve tempo em que tinha poucos livros para ler. Os que eram meus ainda eram menos. A livraria chegava à minha casa, dentro de um grande saco, às costas de um velhote que conhecíamos por tio Alexandre, que vendia algumas pequenas obras e oferecia outras. Saber ganhar dinheiro não era o seu forte.

Hoje tenho muitos, muitos livros. Já vou deixando alguns para trás, compro para ler mas, por vezes, abandono alguns. Não é um abandono definitivo, conto sempre voltar à sua leitura, mas alguns vão ficando esquecidos e outros ganham a minha atenção.

Hoje tenho aqui ao meu lado um livro de viagens de Paul Theroux, chamado O último Combóio para a Zona Verde, mas o escritor está um pouco triste, sente-se velho vai escrevendo sobre isso. Parece-me deprimido. Não conto deixa-lo para trás. Eu gosto muito deste escritor, tenho lido a maior parte daquilo que ele tem escrito, desde que descobri o seu O Velho Expresso da Patagónia. Antes dele não gostava de livros de viagens.

 

 

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