Macha andava coxeando com as grevas negras de sangue

Hoje, na praia, uma sombra ridícula fez-me frio. É verdade que só a senti porque do mar chegava uma aragem bem fresquinha. Sem qualquer sombra a brisa passava deixando uma leve frescura na minha pele ainda molhada do único banho do dia.

Durante alguns instantes senti aquele friozinho a rondar e a persistir colado a mim. Levantei a cabeça e vi que o meu chapéu de sol não me fazia sombra. Esqueci a frescura e continuei a ler: “A cabeça abarrotava de preocupação, de inquietude, de desgraça. Ora a camisa se rasgava, ora apareciam abcessos, ora tinha dores de barriga e era impossível arranjar autorização para ir ao médico, ora a pele rebentava nos calcanhares e Macha andava coxeando, com as grevas negras de sangue” (*).  Tratava-se de uma mulher presa num campo de trabalhos forçados.

De novo aquela frescura excessiva de quem está à sombra e devia gozar o sol. Ergui outra vez a cabeça e vi uma tirinha de sombra projetada pelo poste das bandeiras da praia.

(*) Tudo Passa, pág. 123, Vassili Grossman, D. Quixote. Vassili

 

 

 

Querido mês de setembro

Em setembro crescem as ondas e revolvem as areias na praia do Carvalhal (Odemira).

Hoje as ondas juntaram mais água à água da “albufeira” que este ano tem persistido na divisão da praia.

O mar lavou as águas depositadas no areal. E as preocupações que tenho tido com a espuma engordurada amainaram.

Nos próximos dias o mar se encarregará de trazer ondas ainda maiores que alisarão o areal e a “albufeira” espraiar-se-á até se fundir nas águas azuis do mar.

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Foto: Desobrigado (praia do Carvalhal em 2017/09/07).

A minha praia do Carvalhal (Odemira) está muito maltratada este ano

Um dia destes não há praia. A praia do Carvalhal hoje estava dividida em duas. O rio que corre das terras a nascente e que costumava deslocar-se até ao mar junto à barreira do lado direito,  este ano, mudou o leito e espraia-se atravessando as areias da praia até ao mar do lado esquerdo da praia.

Hoje a água estava particularmente escura. Eu tenho esperança que aquela água escura se devesse só a sedimentos da vegetação que o rio tenha levado até às areias da praia.

A praia do Carvalhal, este ano, como já acontece há muitos mais anos, tem Bandeira Azul. Penso que foi a cor da bandeira que hoje deu confiança a muitos pais para deixarem os filhos brincar naquelas águas acastanhadas.

Na foto que abaixo publico é possível ver o estado da água que hoje fazia uma grande albufeira no areal da praia do Carvalhal.

Esta alteração do rio já aconteceu em muitos outros anos. Eu sei que são as marés que o ajudam a desviar. Mas era costume a Câmara Municipal de Odemira corrigir o desvio do rio. Este ano não aconteceu.

Creio que outros cidadãos como eu devem ter feito algumas perguntas à Câmara sobre se não seria possível intervir um pouco em benefício da praia do Carvalhal e dos seus utilizadores. Se o fizeram não devem ter tido resposta. Eu recebi, em resposta a um mail de 27 de julho, uma resposta automática, indicando que o meu texto tinha sido registado.

Mas hoje, como já referi, a minha praia que também já é a praia de muitas outras pessoas, estava mal, como não me lembro de a ter visto. Prestem atenção à foto que abaixo publico.

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Foto: Desobrigado (praia do Carvalhal – Odemira – em 2017-8-23).

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