As flores da solidariedade

Era um terreno baldio, nas traseiras de um prédio de um bairro de Alhandra, onde vivem algumas das senhoras que ali fazem crescer um lindo jardim. Agora abundam roseiras, saudades, malmequeres, moitas de passarinho, ervas aromáticas e muito mais.

O chão barrento é muito pesado para os braços das mulheres, mas um dia uma fez uma cova e colocou lá uma poda de roseira e foi regando, regando e a planta pegou e cresceu. Um outro dia veio uma vizinha da primeira e trouxe outra poda e plantou, regou e mais uma roseira ali surgiu. De vez em quando aparecia mais uma vizinha, que se associava às primeiras. Trazia sementes que metia na terra e que logo germinavam. Foi assim que o jardim foi crescendo.

Mas as “jardineiras” tinham dificuldade em carregar a água para a rega. Tinham de a trazer de longe, de casa. Até que um dia surgiu, como que por magia, uma solução. Aquela é uma terra de gente solidária.

No bairro existem árvores e alguns plantas em canteiros que também precisam que cuidem delas. Quem se encarrega deste trabalho passou a esquecer-se, próximo do jardim das senhoras, de uma mangueira ligada a uma saída de água. Ficou ali, como que abandonada, e a água para a rega do jardim passou a estar mesmo à mão.

Imagem: Desobrigado

A natureza não humana resplandece e ri de nós

ENSINAMENTOS

 

A água rumoreja, os pampilhos amarelejam o campo, as magarças branqueiam as orlas das veredas, as papoilas ponteiam a vermelho a imensidão de cores dispensando os trigais, a floresta ao lado da cidade adensa-se, os pássaros esvoaçam e empoleiram-se no cimo dos galhos e cantarolam. Mas, e as pessoas meus amigos? Não acredito que estejam a rir de nós. Não vos basta este interregno nas maldades que vos temos feito?

Os automóveis não correm. Os barcos estão ancorados. Os aviões não troam nos céus. A pressão sobre o Planeta baixou. Mas não é necessária tanta exuberância. Eu sei que estão no vosso direito, pois então estiquem-se agora. Chilreiem à vontade. Verdejem e floresçam. Nós até prometemos mudar um pouco do que é nefasto nas nossas vidas.

Então, por favor, mostrem compaixão. Nós estamos a morrer. Nós estamos doentes. Nós estamos sozinhos confinados entre quatro paredes. Nós não podemos estar juntos. Nós não damos beijinhos e abraços.

 

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