Sol na eira e água no nabal

Isso assim seria um milagre. Despedir os trabalhadores quando os lucros diminuem e tê-los de volta com um estalar de dedos isso não era milagre, isso era burrice de quem trabalha.

Quando a Covid-19 se espalhou pelo mundo as pessoas deixaram de viajar e os aviões ficaram em terra. Então os sábios gestores das companhias aéreas, dos aeroportos e os governos dispensaram os trabalhadores. Eles tiveram de fazer-se à vida. Procuraram alternativas para sobreviver.

Hoje todos gostavam de os ter de volta para ajudar a encaixar as verbas que as pessoas estão prontas a repor. E agora quem mandou os trabalhadores embora está a mostrar como a sua gestão foi incompetente e alguns deles estão a deixar os cargos. Ao que tudo indica não se trata só de falta de trabalhadores, muitas outras falhas estão a ser enunciadas por especialistas.

Quando os voos são suprimidas as pessoas transbordam nos aeroportos e ficam entregues a si próprias. Os seus direitos não são respeitados. Os governos fazem orelhas moucas e os responsáveis das empresas dizem que lhes faltam trabalhadores e estes aproveitam e fazem greves reivindicando melhores condições de trabalho e salários mais justos. A estes, quem lhes pode levar a mal? Quando a crise se instalou foram os primeiros a senti-la.

Sol na eira e água no nabal era assim que os gestores das companhias aéreas gostavam que acontecesse. Isso assim seria um milagre. Despedir trabalhadores quando os lucros diminuem e tê-los de volta com um estalar de dedos isso não era milagre, isso era burrice de quem trabalha.

Imagem: agência Lusa

Greve dos motoristas de matérias perigosas. Os serviços mínimos são médios, máximos e até podem crescer

 

Serviços mínimos de 50, 75 e 100 por cento? A estes números eu chamo serviços médios e máximos.  Mesmo recordando o ensaio de caos que aconteceu na anterior greve dos motoristas de matérias perigosos, afiguram-se uns números algo excessivos. Vendo bem, talvez não sejam, pois ainda a greve não começou e já estão combustíveis esgotados, em diversas estações de serviço, um pouco por todo o país.

Até me parece que o senhor ministro das Infraestruturas e da Habitação deu uma ajuda aos efeitos antecipados da greve, quando aconselhou os portugueses a precaverem-se abastecendo os carros antecipadamente, esquecendo-se de aconselhar, igualmente, os empresários das estações de serviço a reescalonar o reabastecimento. Então aconteceu que os cidadãos ouviram o ministro e foram encher os depósitos e os que se atrasaram já andam por aí de bomba em bomba. Imaginem quem se está já a rir!

Os representantes dos trabalhadores não gostaram que tantos venham a ser obrigados a ir trabalhar e apresentaram uma Impugnação dos Serviços Mínimos decretados pelo Governo, mas o Tribunal não lhes deu razão. Devem cumprir a Lei. Eles dizem que sim, mas temos de aguardar para ver, pois nas entrelinhas vou ouvindo algumas frases preocupantes.

Os sindicatos têm levantado questões que se prendem com irregularidades na prática dos pagamentos aos trabalhadores, denunciando  fugas aos impostos. Ouvi o dirigente da ANTRAN desvalorizar a denuncia, dizendo, mais ou menos isto: se houve alguma prática do género da denunciada só beneficiou os trabalhadores, mas esqueceu-se de dizer que dos valores que deviam ser objeto de descontos em sede de IRS, também o deviam ser na taxação para a Segurança Social e, aí, o trabalhador pagava 11% e o empregador 24,5%. Foi só um lapso!

No meio destas dúvidas todas, quando ouvi as declarações do ministro do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social, anunciando aqueles serviços mínimos, assaltou-me a dúvida: quando os trabalhadores estão a cumprir os serviços mínimos, estatisticamente são aderentes à greve, então, assim, os ordenados são pagos pelos empregadores?

Solicitei ao Sindicato dos Funcionários Judiciais uma resposta à minha dúvida, que, prontamente, me respondeu: sim, os trabalhadores, afetos aos serviços mínimos, são pagos nos termos do n.º 4, do artigo 537º, da Lei n.º 7/2009 (Código do Trabalho), porque se mantêm “na estrita medida necessária a essa prestação, sob a autoridade e direção do empregador”.  mas efetivamente integram os números dos aderentes à greve.

Já não ha combustível antes da greve
Imagem: Luis Forra – Lusa (editada por Desobrigado)

Cortar onde mais dói

VIVENDO E APRENDENDO

Que grande invenção esta senhores enfermeiros. Greve cirúrgica para cortar onde dói mais,  na reposição da saúde das pessoas.

Todos sabemos que se as greves não prejudicam alguém não têm substância. Não produzem o efeito desejado. Também se sabe que a greve é um direito constitucional. Mas uma greve às cirurgias? Estrategicamente localizada? Não sentem, senhores enfermeiros, que estão a boicotar o direito das pessoas à saúde?

Eu sei que estão a ser seriamente lesados nos ordenados tanto o que decorre do exercício de funções no Serviço Nacional de Saúde (SNS) como para outras possíveis entidades. Pois greve é greve e a Lei institui a perda de vencimento. Ora veja-se o que diz a Lei:
“A greve suspende, no que respeita aos trabalhadores que a ela aderirem, as relações emergentes do contrato, nomeadamente o direito à remuneração e, em consequência, desvincula-os dos deveres de subordinação e assiduidade (n.º 1 do artigo 398.º da Lei n.º 7/2009, na sua redação atual)”.

Ah! Sim, é verdade, alguns destes profissionais têm vindo a efetuar uma recolha de fundos para fazer face aos cortes dos vencimentos de quem está a fazer greve. Se assim é só o utente do SNS é prejudicado.

Encontraram uma forma transparente e legal? (a Lei prevê a perda de vencimento). Mas transparente é com certeza, pois sei que contam publicar a lista das pessoas/entidades beneméritas que ajudam à manutenção da greve. Até quando?

 

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