As capas são as montras das palavras

ERRÂNCIAS

 

As capas abrem ou fecham caminhos. São as montras das palavras. Tantas vezes entro nas casas dos livros que tenho cimentada a convicção de que as capas e também os títulos são como os rostos das pessoas, criam uma primeira impressão difícil de alterar. É verdade sou permeável às primeiras sensações.

Mas, não sou de ficar pelo que as montras me mostram. Costumo observar, entrar, folhear, ler um trecho e, depois, colocar o livro no sítio onde o encontrei ou debaixo do braço. As capas incitam-me ou afastam-me dos conteúdos e os títulos são igualmente importantes. A oferta é vasta e eu adoro a diversidade. Se não conheço o autor, se não gosto do título, se a capa não é apelativa, se o resumo mostra debilidade, passo mesmo à frente, salvo se é o dia de novos criadores se me apresentarem.

Ah! E então se me oferecem um livro tenho de ultrapassar os meus balizamentos. Quando o título me parece pobre e a capa é uma montra pouco atrativa, mesmo assim, o interior é para ser visto, para ser vivido.

Aconteceu assim com um dos meus últimos presentes. Demorei algum tempo a entrar. Primeiro observei a montra, li o que devia ser o último incentivo: o título e o texto sobre a autora. Na capa, observei uns edifícios esbatidos, uma pessoa diluída, umas flores arroxeadas, umas cores ocre e a descrição: O Feitiço de Marraquexe, de Rosanna Ley (Porto Editora). Não aconteceu aquele impulso, mas lá fui eu.

Agora, cheguei às últimas páginas e estou mesmo a gostar. A escrita é apelativa. O enredo é ótimo. Os intervenientes na história são apresentados de forma bem interessante. Mas sempre vos digo que, o meu título, para ficar pelo “feitiço”, seria: O Feitiço do Açafrão e, como é natural, a capa tinha de destacar os campos onde as plantas proliferam.

Quem constrói as montras devia saber o que há dentro das lojas!

Dos poucos aos muitos livros

Houve tempo em que tinha poucos livros para ler. Os que eram meus ainda eram menos. A livraria chegava à minha casa, dentro de um grande saco, às costas de um velhote que conhecíamos por tio Alexandre, que vendia algumas pequenas obras e oferecia outras. Saber ganhar dinheiro não era o seu forte.

Hoje tenho muitos, muitos livros. Já vou deixando alguns para trás, compro para ler mas, por vezes, abandono alguns. Não é um abandono definitivo, conto sempre voltar à sua leitura, mas alguns vão ficando esquecidos e outros ganham a minha atenção.

Hoje tenho aqui ao meu lado um livro de viagens de Paul Theroux, chamado O último Combóio para a Zona Verde, mas o escritor está um pouco triste, sente-se velho vai escrevendo sobre isso. Parece-me deprimido. Não conto deixa-lo para trás. Eu gosto muito deste escritor, tenho lido a maior parte daquilo que ele tem escrito, desde que descobri o seu O Velho Expresso da Patagónia. Antes dele não gostava de livros de viagens.

 

 

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