ERRÂNCIAS
As capas abrem ou fecham caminhos. São as montras das palavras. Tantas vezes entro nas casas dos livros que tenho cimentada a convicção de que as capas e também os títulos são como os rostos das pessoas, criam uma primeira impressão difícil de alterar. É verdade sou permeável às primeiras sensações.
Mas, não sou de ficar pelo que as montras me mostram. Costumo observar, entrar, folhear, ler um trecho e, depois, colocar o livro no sítio onde o encontrei ou debaixo do braço. As capas incitam-me ou afastam-me dos conteúdos e os títulos são igualmente importantes. A oferta é vasta e eu adoro a diversidade. Se não conheço o autor, se não gosto do título, se a capa não é apelativa, se o resumo mostra debilidade, passo mesmo à frente, salvo se é o dia de novos criadores se me apresentarem.
Ah! E então se me oferecem um livro tenho de ultrapassar os meus balizamentos. Quando o título me parece pobre e a capa é uma montra pouco atrativa, mesmo assim, o interior é para ser visto, para ser vivido.
Aconteceu assim com um dos meus últimos presentes. Demorei algum tempo a entrar. Primeiro observei a montra, li o que devia ser o último incentivo: o título e o texto sobre a autora. Na capa, observei uns edifícios esbatidos, uma pessoa diluída, umas flores arroxeadas, umas cores ocre e a descrição: O Feitiço de Marraquexe, de Rosanna Ley (Porto Editora). Não aconteceu aquele impulso, mas lá fui eu.
Agora, cheguei às últimas páginas e estou mesmo a gostar. A escrita é apelativa. O enredo é ótimo. Os intervenientes na história são apresentados de forma bem interessante. Mas sempre vos digo que, o meu título, para ficar pelo “feitiço”, seria: O Feitiço do Açafrão e, como é natural, a capa tinha de destacar os campos onde as plantas proliferam.
Quem constrói as montras devia saber o que há dentro das lojas!
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