Já não há alentejanos no Alentejo?

Deu-se reviravolta. Esperemos pela cambalhota. Deve ter sido fácil ampliar as “pequenas” xenofobias e montar umas quantas frases sonantes para gritar nas televisões e nas redes sociais. 

Na noite eleitoral de domingo, enquanto ouvia os resultados pensava: “já não há alentejanos no Alentejo”. Dois dias depois queria manter esse pensamento, mas sei que não é verdade. Os alentejanos continuam na sua terra e são os mesmos que há décadas votavam em sentido contrário. 

Houve quem andasse por lá, como terá feito um pouco por todo o País, a ouvir as conversas das pessoas simples. A escutar os seus anseios e as suas mágoas. Deve-lhe ter sido fácil ampliar as “pequenas” xenofobias e montar umas quantas frases sonantes para gritar nas televisões e nas redes sociais e enganar as pessoas de bem. Deu-se a reviravolta. Esperemos pela cambalhota.

Ampliaram o descontentamento e a indignação dos que trabalharam duramente desde crianças e agora, reformados, recebem os valores mais mínimos dos mínimos. Mesmo assim, muitos destes ainda somam uns complementos socias. 

Ora vejamos: quem grita o que os mais pobres gostam de ouvir, se viesse a ser governo, as pensões mínimas das mínimas ainda seriam muito mais reduzidas. Então os alentejanos só ouviram aquilo de que gostavam e não perceberam que votaram em quem é contra a atribuição de uma parte das suas pensões? Sim, porque, para eles, a gritaria foi feita contra os subsídios, como se estes só fossem atribuídos aos alvos da sua xenofobia. 

Os que lá viveram e os que ainda lá permanecem sabem, que aqueles que chegavam, ficavam uns dias e partiam, sempre foram “pedras nos sapatos dos alentejanos”. Era hábito dizer-se que quando passavam “havia sempre alguma coisa que se lhes agarrava às mãos”. Isto é ancestral, vem das calendas. Isto entranhou-se.

Agora a Segurança Social acode-lhes. Acrescenta-lhes os rendimentos e os que vivem de míseras reformas olham para o lado e sentem-se injustiçados. 

Assédio à Segurança Social

AS MINHAS INSTITUIÇÕES

Durante algum tempo pensei que o discurso da insustentabilidade da SS e o medo que ele produzia dava votos. Hoje vejo mais nítido. O medo pode gerar negócio e há pessoas que só pensam em dinheiro. Então que sejam claras, assumam o  populismo abertamente. Não se envergonhem.  Catastrofistas matreiros.

 

Antes de mais, quero relembrar as pessoas que a Segurança Social tem em pleno funcionamento o Regime Público de Capitalização, nos termos do Decreto-Lei n.o 26/2008, de 22 de fevereiro. Funciona como uma poupança para reforço da pensão. Alguém ouviu uma sugestão relativa a esta possibilidade? É individual. Cada um paga para si. 

 

A sustentabilidade da Segurança Social foi outra vez puxada para o debate político e os nervos das pessoas foram postos em franja. Não se vislumbra qualquer fundamento honesto para que isto aconteça. Mais uma vez ofereceram um estudo a quem, sempre que a oportunidade surge, amplifica as suas conclusões e amedronta as pessoas que recebem legalmente as pensões. Afligem, igualmente, quem está na vida ativa. São estes os principais alvos dos negociantes que assediam a Segurança Social (SS), com o objetivo de que um qualquer fundo privado de pensões receba uma parte das contribuições que são arrecadadas e geridas pela SS.

O dinheiro da maioria dos portugueses é curto, mesmo assim, há quem os queira a descontar para fundos privados de pensões. Se tal viesse a acontecer, claro que os apresentariam como sendo geridos por seres “competentes”, mas  não acrescentariam que as suas capacidades de gestão terminariam com um imprevisto que os fizesse percorrer um caminho para algum paraíso fiscal. Se falassem com as pessoas elas lhes diriam que o que têm é pouco e não podem, nem querem, arriscar. Até acrescentariam que têm inteligência e memória! Que ainda têm presentes os descalabros da última crise financeira. Toda a gente recorda. Daí os subterfúgios do discurso.

Com o que se sabe, para chegarem aos que julgam incautos, desrespeitam os pensionistas da SS e da Caixa Geral de Aposentações. Não é aceitável que estes sejam usados como peças que servem objetivos gananciosos. Deviam saber que os atuais pensionistas tiveram as maiores carreiras contributivas de sempre (40, 50 e mais anos) e, também, devem ter descontado sobre os melhores ordenados, em média, que o País pagou. É muito simples de fundamentar esta afirmação e quem duvide que consulte as estatísticas da SS.

Durante algum tempo pensei que o discurso da insustentabilidade da SS e o medo que ele produzia dava votos. Hoje vejo mais nítido. O medo pode gerar negócio e há pessoas que só pensam em dinheiro. Então que sejam claras, assumam o  populismo abertamente. Não se envergonhem, porque é isso que querem, catastrofistas matreiros.

Saibam que quem trabalha hoje paga as pensões de quem ontem trabalhou. É mesmo isso. Assim está inscrito no regime da SS. Saibam, também, que não podem atirar isso à cara dos atuais pensionistas, porque eles já pagaram. Mas, sempre que podem, aproveitam para dizer a quem trabalha que não terá pensões no futuro.

Não é verdade. Os ativos pagam para os pensionistas. Mas deixem-me reforçar esta ideia: os pensionistas de hoje, durante 40, 50 e mais anos, pagaram as pensões de quem adquiriu direitos com o regime democrático. Algumas das pessoas, que passaram a receber pensões com o 25 de Abril, trabalharam a vida inteira por conta de outrem, não havendo quem obrigasse os empregadores a pagar contribuições. Claro que tinham direito a viver dignamente e fizerem bem pagar-lhes. Mas também existiram outras que nunca trabalharam e tiveram direito aos mesmos benefícios. Aproveitaram o que o regime democrático trouxe de bom e lá foram requerer as pensões de trabalhadoras do serviço doméstico (leia-se mulheres a dias), só para exemplificar. Não houve avenidas de Roma por todo o País que não aproveitassem as benesses (algumas pessoas pagaram tuta e meia e outras nada). Creio que quem está hoje em constante campanha contra os pensionistas atuais deve conhecer casos destes. Muitos até terão gente muito próxima que ainda aproveita estas pensões.

Fundos em queda
Imagem: Pixabay

Petróleo na Costa: pensões e salários melhorados

Vão começar a furar? As profundezas do mar serão revolvidas. As sardinhas e os outros peixes bem podem emigrar.

As areias douradas das praias correm o risco de perder o brilho e, até mesmo, de mudar para cor de chumbo. Os turistas e os naturais vão fugir ao crude. O horizonte vai ficar mais curto.

Dizem os  interessados, que os riscos, neste lado do Atlântico, são diminutos ou não existem de todo. Na nossa costa não passam tufões. O clima, por aqui, não sofre alterações drásticas. A tragédia dos incêndios de 2017 foi mesmo um percalço. As nossas condições atmosféricas mantêm-se constantes há centenas de anos. Nada está a mudar!

Sim, ainda falta referir, que as técnicas, as tecnologias e a ação dos homens são infalíveis. Podemos dormir descansados e não fazer nada.

Ah! Sim, ainda falta mencionar o mais importante. Também não nos devemos preocupar,  porque os riscos, se alguns houver, serão totalmente compensados, logo que as sondas entrem no âmago do Oceano. Os alentejanos e os algarvios vão deixar de receber pensões míseras e os salários de quem trabalha subirão em flecha.

Estão descrentes? Então não têm notícias de que, por todo esse mundo da exploração do petróleo, toda a riqueza é dividida por todos?

Nós, os que andamos por fora, também queremos viver melhor. Vamos regressar em breve.

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Imagem: Desobrigado

 

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