No Chile. Estou no Chile. Já que aqui me encontro, fico por cá mais um pouco. Vou viajar ao encontro das coisas de que gosto neste país. Mas a passo largo. Tenho outros caminhos, igualmente longos, pela frente.
O Chile é comprido e estreito, estende-se, de sul para norte (já se sabe que agora vou nesta direção) à direita encosta-se à Argentina e à esquerda ao Oceano Pacífico e aos muitos golfos e ao Mar do Chile. Lá em cima, a norte, apoia-se no Perú e na Bolívia.
Este é um país diverso e belo. Vou acentuar o que de mais marcante encontrar. Depois, outro dia, passarei para a Argentina.
Aqui no Sul encontra-se a Patagónia, que se divide pelo Chile e pela Argentina. Há anos que Paul Theroux me deu a conhecer este território, no seu O Velho Expresso da Patagónia. Desde então aguardo uma oportunidade para o conhecer. Bem podia ficar por cá. Embrenhar-me nos seus bosques. Admirar os seus pinguins, os seus lobos marinhos e todos os outros animais que cruzassem o meu caminho. Resfriar com os seus 10.º a – 20º. Passear pelos vales e pelas montanhas, até os pés me ficarem doridos. Falar com os patagónios. Mas não quero demorar mais.
Aqui voltarei, possivelmente ainda nesta mesma viagem. Quando sair lá de cima, do norte do Chile e voltar ao Sul para me perder pela Argentina.
Agora quero firmemente alinhar os objetivos iniciais: localizar geograficamente continentes e dentro destes os países. O Chile já está bem situado. Bem fixado no mapa da América do Sul.
Continuo a sul. Sinto a corrente de ar frio que sopra da Antártida. Olho lá para cima e quase podia jurar que sopra até à linha do Equador.
Ainda tenho tempo para saber mais sobre o Chile: tem 6435 quilómetros de litoral; largura média 175 quilómetros; possui, ainda, outros territórios – o Arquipélago Juan Fernández, as Ilhas Desventuradas, a Ilha Sala y Gomez, a Ilha da Páscoa e reclama a soberania de 1250000 km quadradas da Antártida (mais tarde talvez passe por estes territórios).
O país é percorrido, em todo o comprimento, pela Cordilheira dos Andes. Já vi uma parte deste conjunto de montanhas, lá em baixo, na Patagónia.
Se eu fosse montanhista não dispensaria a subida e a descida de algumas das suas serras. Mas saibam que elas estão por aqui a aguardar os aventureiros. É bom não esquecer que o oxigénio, por vezes, rareia. Se eu por ali me aventurasse ficaria com dores de cabeça, já que o meu coração deve ser mais pequeno do que o dos quéchuas (descendentes dos incas), que, segundo li, possuem um coração maior do que o de qualquer outro ser humano. Foram-se adaptando, por isso, conseguem uma oxigenação perfeita. Não é o meu caso.
Então vejam lá: a Cordilheira dos Andes, que percorre a América do Sul, da Venezuela até ao sul da Argentina e do Chile, alberga uma fauna bem interessante. Deixem-me referir os animais de que aqui mais gosto – lhama, alpaca, guanaco e a vicunha a que me irei encostar e aquecer se, por acaso, mudar de ideias e resolver subir às montanhas geladas. Possivelmente terei pouca sorte, quanto a desfrutar da quentura da lã das vicunhas, pois elas são ariscas e têm medo dos homens (e das mulheres) já que as perseguem e quase as tem dizimadas por tanto apreciarem a sua lã.
Vou continuar a subir. Vou passar pelo centro do país. Pela sua capital, Santiago. Aquela cidade onde choveu quando Salvador Allende foi assassinado. Quando a democracia morreu e os chilenos perderam a liberdade.
Esta região, o centro do país, é dominante em termos de população e recursos da agricultura. Aqui também se centraliza o país político, financeiro e cultural. Não fico por aqui mais tempo. Já percebi o essencial.
Vou para norte. Estou perto do deserto mais seco do mundo, o Atacama. Aqui há a riqueza dos minerais, onde predomina o cobre.
Não vou sair ainda. Quero visitar a cidade de São Pedro de Atacama. Vivem lá cerca de 3000 pessoas. Vou encontrar uma delas que me ensine como posso chegar aos lagos de água quente (os de água fria não me interessam) que sei que por aqui existem, na proximidade de vulcões. Eu vou lá chegar.
Ah, sim, tenho percorrido tantos espaços. Calcorreio caminhos largos e veredas. Distraio-me com a beleza que me envolve. Mas também preciso de alimentação. A gastronomia chilena não pode ser dispensada.
Por aqui ao pequeno almoço eu gosto das torradinhas com manteiga e o café com leite (não me venha com essa de que o leite faz mal à saúde). Ao almoço servem-me uma refeição de carne, com vegetais e salada a acompanhar. A meio da tarde faço uma pausa para tomar um chá, acompanho-o com pão queijo e frutas.
À noite escolho peixe ou marisco, arroz, salada e acompanho tudo comum bom vinho de produção chilena, que é excelente (as pessoas dizem por aqui que não há refeição completa sem vinho). Deixem-me referir, ainda, que, por vezes, ao jantar aprecio um o pastel de choclo. É assim com que uma torta recheada de carne, de legumes e de milho. É ótima. Mas deve ter deixado de ser consumida por muitos chilenos. Numa das reuniões de preparação do golpe político de 1973, o choclo foi servido ao almoço.
Ah! É verdade, ainda sei pouco sobre os chilenos. Já sei que são, hoje, 18129796 (fonte: countrymeters.info). Li que são de ascendência europeia e ameríndia. Estes últimos constituem as classes mais baixos da sociedade e os de origem europeias as mais altas. A sua moeda é o peso chileno. A língua oficial é o castelhano. A bebida tradicional do Chile é designada de Pisco de Sour. Eu diria que é um licor. Disseram-me que é confecionado com sumo de limão, açúcar e clara de ovo. Mas tenho a certeza que faltam aqui ingredientes.
Por agora, está tudo visto no Chile, tudo aquilo a que tive acesso. Sigo para a Argentina.

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