ERRÂNCIAS
Sentava-se à mesa do café, mesmo ali à minha frente. Falava com duas amigas. A senhora tinha uma voz bem colocada. A dado passo, as amigas começaram a falar de morte, de campas, de cemitérios. Não ouvi todas as palavras que disseram. Nem sei se o português das outras duas era mais assertivo. Mas a mais faladora, aquela que monopolizava a conversa, a certa altura disse: “O meu marido e a minha filha querem ser cromados”. Continuou a conversa mórbida para depois concluir: “Eu não quero ser cromada”.
Ela não quer ser cremada. Não quer ser reduzida a cinzas. Gostava de vos mostrar a senhora que assim falava. Muito bem vestida. Muito bem penteada. Tirei o som ao telemóvel e fotografei-as. Não posso usar a fotografia. Melhor, vou publicá-la com uns filtros. Só para dar uma ideia da senhora que não quer ser cromada.

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