AS PALAVRAS
De vez em quando, de forma casual, à medida que forem surgindo, vou descodificar palavras. Palavras de que eu gosto, sem qualquer pretensão, sem querer ensinar português seja a quem for. Vou escrever sobre palavras, sobre palavrinhas. Fortes ou simples, bonitas ou feias, tanto faz, desde que eu goste delas. Melhor, ainda, vou pedir às palavras que falem sobre elas.
CASSADA? Sim, hoje sou eu que me apresento.
Acham que me estou a armar em inovadora? Pensam que sou uma novata a querer juntar-se às suas parceiras palavras? Não, não é isso. Sou mesma antiga. Ando por aí CASSADA, caçada nas bocas do mundo há muito tempo. Os falantes do português, quando me utilizam para dizer que tornaram nulos alguns documentos, como cartas de condução, desgostam-me.
Ora vejam como me usam. Dizem que CASSARAM as cartas de condução, porque os condutores de veículos cometeram infrações graves. Quem, assim, gostará de mim? Mas é verdade eu sirvo para isto mesmo, mas, desta forma, sou uma palavra mal-amada. Usam-me quando noticiam as estatísticas das infrações nas estradas. Muitas vezes dizem: “devido ao consumo excessivo de álcool, detetado enquanto conduziam, foram CASSADAS muitas cartas de condução”.
E aqueles seres humanos, que a muito custo chegam a um destino de eleição e, relutantemente, lhes entregam uns documentos para que se sintam seguros, depois, por motivos por vezes fúteis, me usam e CASSAM-lhes os papéis. Como eles me devem odiar!
E. ainda, uma confusão. Quando me colocam assim, CASSAR, há quem se ria e diga: “CASSAR, assim? Parece-me que estão enganados nesta redação, não devia escrever, assim, caçar?”
Então, digo-vos, caçar? Ah! Sim, essa é outra palavra. Caçar, assim escrita, significa perseguir animais para os apanhar mortos ou vivos. Também se pode empregar, por exemplo, dizendo caçar um emprego. Também não lhe invejo o significado!
CASSADA? SIM, CASSADA
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