A mulher tinha acabado de estacionar no piso menos três e aguardava o elevador. Dois homens aproximaram-se. Cumprimentaram-na. Um deles, senhor vestido à Ralph Lauren, olhou para ela e disse: “Se eu fosse mulher não andava por aqui sozinha”. Então porquê? Perguntou ela. Ele mostrou-se um pouco atrapalhado. Deve estar habituado a que as mulheres sorriam e fiquem caladas (possivelmente é o que ela usa fazer). Mas, mesmo perturbado, respondeu-lhe: “Sabe isto aqui é muito sozinho e escuro”. Ao que ela disse: “Ah, não tem problema, eu estaciono aqui há anos e nunca me aconteceu nada de mal”. Ele que começou por armar-se em engraçadinho, no momento, já estava a sentir-se desarmado. E lá foi tentando uma justificação: “Eu queria dizer que isto é perigoso para…” (calou-se) e ela ajudou-o dizendo: “Para qualquer pessoa, não é verdade?” Ele, coitado, devia estar a sentir que dali a pouco ela começaria a dizer-lhe que aquela era uma conversa, no mínimo, paternalista que significava que as mulheres são uns seres que é melhor caminharem sempre por sítios com muita gente e muita luz. Os restantes lugares são só para elas se estiverem muito bem acompanhadas por um homem.
Saíram os três no piso zero. O amigo, que não entrou na conversa, ia com um “sorriso na cara”.

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