CRÓNICAS
Eu gosto de punhos de renda reais. Adoro aqueles que me apertam os pulsos e me enfeitam as mãos. Os figurativos, que designam a mansidão com que algumas pessoas vão vivendo e acautelando as relações com outros seres humanos, desagradam-me. O trato, de quem usa estes punhos excessivamente expostos, é exagerado e mal interpretado. De diplomático, cortês, reservado, habilidoso, elegante e fino, passa a subserviente, adulador, engraxador e muito mais.
Andar com punhos de renda é o que não me apetece mesmo, a maior parte do tempo. Desejo, isso sim, fazer precisamente o contrário. Muitas cautelas inibem-me a personalidade. Adoro ir direta ao assunto, sem injúria. A clareza encanta-me. Aborrece-me rodear as questões. Gosto de deixar a diplomacia aos profissionais. Ultimamente, então, uso punhos mais grosseiros. Os punhos de renda estão a ficar muito na gaveta. Demasiadas vezes dirão algumas pessoas. Desculpem-me, então, mas talvez até me esqueça da gaveta onde os guardo.

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