INCAUTOS
A menina não terá mais de quatro anos. Está na varanda de um quarto andar e o estore está fechado. Não vejo objetos para onde ela possa subir e colocar-se em perigo, mas ali mais ao canto está um carro de bebé montado. E se ela resolve subir e esgueirar-se para a rua? Haja quem a proteja. Ela está sozinha. Brinca com algo que não identifico. De vez em quando volta para o carro. Agora senta-se e, por vezes, sobe e põe-se lá em pé. As grades da varanda são suficientemente altas para a proteger, mas aquele carro ali colocado e ela a subir e a descer e o estore puxado para baixo. Que sobressalto.
Enquanto tomava o meu chá da tarde assistia ao que se passava naquela varanda. O que fazer? Pensei descer e tocar à campainha daquela casa. Desisti a conselho de quem estava ao meu lado, mas como podia correr o risco de ver aquela menina cair daquela varanda. Tinha de fazer alguma coisa.
Liguei para a esquadra da Polícia de Segurança Pública (PSP). Apesar de ter acertado com o número da PSP do outro lado da cidade, fui prontamente atendida pelo Chefe, que me pediu todas as informações para identificar o local onde estava a criança e disse-me que ia passar rapidamente as informações aos colegas da esquadra aqui quase ao meu lado. Ainda me perguntou se a menina me parecia agitada e eu respondi-lhe que não, que ela estava a brincar, mas acrescentei que tinha muito medo que ela se debruçasse e caísse e o profissional da PSP respondeu-me: “Sim, tem razão, vou já providenciar para alguém la ir”. Agradeceu-me e eu também lhe disse obrigada e desligamos.
Sentei-me e continuei com os olhos pregados naquela varanda. Havia poucos minutos que eu tinha feito o telefonema quando a vi deitar-se no chão e deslizar para dentro de casa. Eu nem cheguei a vislumbrar a fresta do estore, mas vi que ela tinha entrado. Fiquei aliviada, mas pensei que talvez me tivesse precipitado. Pensado bem, não podia ter feito diferente.
Voltei, então, a ligar para a esquadra, atendeu-me o mesmo Chefe, que me voltou a agradecer por eu o ter informado prontamente quando a criança deixou de estar em perigo.
Agora não consigo tirar do pensamento aquela cena que me assustou e penso se os adultos daquela casa se terão apercebido do perigo em que aquela criança esteve. Quem terá deixado aquela abertura no estore por onde ela se esgueirou?
A menina não terá mais de quatro anos. Está na varanda de um quarto andar e o estore está fechado. Não vejo objetos para onde ela possa subir e colocar-se em perigo, mas ali mais ao canto está um carro de bebé montado. E se ela resolve subir e esgueirar-se para a rua? Haja quem a proteja. Ela está sozinha. Brinca com algo que não identifico. De vez em quando volta para o carro. Agora senta-se e, por vezes, sobe e põe-se lá em pé. As grades da varanda são suficientemente altas para a proteger, mas aquele carro ali colocado e ela a subir e a descer e o estore puxado para baixo. Que sobressalto.
