A montanha das culpas às costas

A gente do PS é exímia em atirar cascas de bananas para depois escorrer. Não sei porque os outros partidos se preocupam tanto em guerrear com quem tem maioria absoluta porque os portugueses assim quiseram. Pensam que os derrubam na Assembleia da República? Julgam que o Presidente dissolve o Parlamento? Acreditam que conseguem aprovar moções de censura? São todos os ingénuos impacientes. Talvez seja mais eficaz dar tempo ao tempo, que um dia destes as escorregadelas talvez provoquem doença grave.

Desta vez talvez nem tenha sido o caso. Talvez nem tenha havido cascas de banana no caminho. Ou, melhor dizendo, talvez as cascas tenham lá estado, mas alguém tenha apontado o dedo dizendo: “Cuidado que elas estão aí. Isto tem de ser assim para parecer que vais escorregar”.

Eu sei que não houve quem interpretasse assim e também sei que não consigo apresentar um fundamento forte. Mas pensem um pouco comigo. A decisão apresentada pelo ministro não podia deixar de ter o acordo de António Costa. Mas nos projetos das obras no Montijo parece já haver concurso ganho e a empresa estava a ser preterida em favor de um instituto português. Este e muitos mais interesses devem estar em jogo. O Primeiro-Ministro estava na cimeira da NATO. Claro que as pressões devem ter sido muitas. O Presidente também deve ter dado uma ajuda substancial para o ministro carregar a montanha das culpas. Claro que todos eles sabem que as coisas tinham de se passar assim, mas coitado do Pedro Nuno que tem de carregar com o fardo da incompetência.  

Mas, um dia destes, muito antes de ser tempo de algum deles escrever as memórias, haverá quem conte como se passou esta história. E eu quero saber.

Imagem: Agência Lusa

Ela pintou a vida

As pinturas de Paula Rego têm pessoas reais lá dentro.

Eu adoro as histórias que a Paula Rego conta na sua Obra. Eu sei que foge ao que o comum dos mortais costuma achar aceitável quando se fala de emoção, mas, é mesmo assim, acontece-me ter vontade de chorar quando vejo os seus desenhos. São tão reais as pessoas que figuram nos seus quadros. O sofrimento do ser humano está ali tão forte, tão comovente. As pinturas de Paula Rego têm pessoas reais lá dentro. Desde as expressões dadas aos rostos, aos desenhos dos corpos, às histórias de vidas contadas, às roupas que vestem as pessoas, aos sapatos que as calçam, aos ambientes onde estão colocadas, tudo é espetacular.

Hoje, a propósito da sua morte, vi tantas imagens da sua obra que, apesar de estar cheia de tristeza por ela ter partido, me deliciaram. Mas também acrescentou tristeza a minha tristeza pela sua morte o facto de ter deixado de acalentar a esperança de trocar umas palavras com ela. Adorava ter-lhe dito como a estimava e como gostava da sua Arte.  

Há quem diga que Paula Rego pintou o medo, pois eu digo que ela pintou a vida.

Queria votar? Tivesse ficado doente antes de 14 de janeiro

Só de 15 a 19 de janeiro podem ficar perdidos uns 448930 votos. Vejam os números diários: 15 de janeiro, 10698; 16 de janeiro, 10663; 17 de janeiro, 10385; 18 de janeiro, 6702; 19 de janeiro, 10445.  Só nestes cinco dias (de 15 a 19) ficaram infetadas 48893 pessoas. Se atribuirmos a cada uma destas pessoas dez contactos de risco, que tiveram de ficar em isolamento profilático, são 488930 votos que são perdidos. Depois somem todos os outros de 20 a 23 de janeiro e vão ver a enormidade dos números.

Ela teve dois azares juntos, fez um teste à Covid-19 que deu positivo e isso aconteceu depois do dia 14 de janeiro. Ela queria votar e devia poder exercer esse seu direito de cidadania, mas o infortúnio bateu-lhe à porta. Um breve descuido e infetou-se.

Ficou triste. Sentiu-se injustiçada. Ela não descura o usa da máscara, mantém o distanciamento entre as pessoas tal como é recomendado pelas autoridades de saúde, não almoça com os amigos, tem estado afastada dos familiares que estão fora da sua bolha. Tem feito tudo certinho na sua vida privada e no emprego. Ah, mas uma amiga vai ser mamã e ela baixou a guarda. Agora esta assintomática. Está confinada e isolada como não pode deixar de ser. 

Assimilado o impacto da notícia, assaltou-a outra preocupação. No próximo dia 24 há eleição para o próximo Presidente da República. “Como vou fazer para exercer esse meu direito, que não quero deixar para decisão de terceiros?”, pensou ela.

Ligou o correio eletrónico e “pôs mãos à obra”. Enviou e-mails para diversas entidades, nomeadamente para a Comissão Nacional de Eleições, que prontamente lhe respondeu e a informação não foi nada animadora. Para poder votar, na situação de isolamento, tinha de ter tido o seu teste positivo até ao dia 14 de janeiro. Depois desta data não há hipótese. Não vai poder exercer o seu direito de voto.

Agora pergunto eu: a máquina está montada para recolher o voto de quem está confinado, ou porque está infetado ou porque teve um contacto de risco e até já começou hoje a trabalhar. Então porque tem o motor de parar à porta dos que ficaram infetados depois do dia 14 deste mês? Sabem quem são as pessoas que estão forçosamente confinadas, porque não recolhem os votos daquelas que mostram interesse em votar? Porque não podem estas equipas funcionar até ao dia da eleição?

Ora vejam lá os votos que vão ser perdidos e que engrossarão o número da abstenção? Sabem quantas pessoas oficialmente estão infetadas desde o dia 14? Aqui ficam os números: 15 de janeiro, 10698; 16 de janeiro, 10663; 17 de janeiro, 10385; 18 de janeiro, 6702; 19 de janeiro, 10445.  Só nestes cinco dias (de 15 a 19) ficaram infetadas 48893 pessoas. Se atribuirmos a cada uma destas pessoas dez contactos de risco, que tiveram de ficar em isolamento profilático, são 488930 votos que são perdidos. Depois somem todos os outros de 20 a 23 de janeiro e vão ver a enormidade dos números.

Mesmo assim, dizem-me que não é possível responder a todos estes casos? Agora têm de dar o vosso melhor. Têm de fazer com que as pessoas exerçam o seu direito de voto. Estamos nesta situação inusual desde março do ano passado, deviam ter preparado esta eleição convenientemente. É muita gente, dirão. Então pensem nos serviços de saúde que têm de atender a sua grande maioria. Já os ouviram dizer que metade deles não tem direito a tratamento?

Eles vão concorrer. Eu quero saber quem eles são

À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

“Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária.”(Artigo 1.º, Constituição da República Portuguesa).

O atual Presidente da República está prestes a terminar o mandato e o próximo deverá ser eleito no mês de janeiro de 2021.

Hoje vi e ouvi a apresentação de uma candidata à eleição de Presidente da República e, então, virei-me para a Constituição República Portuguesa (CRP) na esperança que a leitura me ajude a enquadrar as falas das mulheres e dos homens que vão disputar o meu voto.

A CRP tem um capítulo dedicado ao tema Presidente da República (Título II – Presidente da República, Capítulo I – Estatuto e eleição). Vou ler e reler de fio a pavio. Quero avaliar se os discursos dos diversos candidatos estão conforme os seus termos.

Já comecei e logo para ler o Primeiro Artigo da CRP. Ora vejam.

“Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária.”(Artigo 1.º, Constituição da República Portuguesa).

CONTINUA…

Deputados aprovam lei inconstitucional? Pequenos empresários desesperam

APERTOS

Quando os deputados aprovam leis inconstitucionais no Parlamento, os microempresários e os empresários em nome individual, que viram as suas atividades económicas reduzidas devido à crise de saúde pública (Covid-19), continuam a esperar por alguma proteção social. 

O Presidente da República devolveu a Lei que previa a extensão, do apoio extraordinário à redução da atividade de trabalhador independente, aos microempresários e empresários em nome individual. O Diploma, na análise do Presidente, violava a “lei travão” (a Lei que interdita despesas não previstas no Orçamento de Estado que esteja em vigor).

Alguns deputados comprometem-se, agora, a integrar aquele apoio no Orçamento Suplementar, que aguarda votação na especialidade na AR. Vamos esperar para ver se os partidos políticos, que aprovaram a Lei, mantêm o sentido de voto, aprovando a proposta que o Partido Ecologista os Verdes anunciou ir apresentar. 

O prazer do patrocínio

INCAUTOS

 

Bem pode o Presidente da República querer resgatar os meios de comunicação social da depressão económica e da subserviência em que vivem. Se os profissionais continuarem a navegar nos mares da incompetência e da cedência, mesmo com a sua intervenção, a derrocada terminará com o quarto poder no chão.

Um exemplo simples. Há uns dias um jornalista da televisão pública leu uma notícia sobre dois desportistas de saltos para a água, na Índia (em Jodhpur)  de uma altura de uns 20 metros, para um poço ladeado por prédios, a que os habitantes da cidade apelidam de piscina, informando que eles não estavam em competição. Estavam a saltar por “puro prazer”.

O recreio dos dois atletas correu mundo. Ora vejam o que ao jornalista passou despercebido: se quisermos compreender porque se recreavam basta olharmos para a imagem que aqui publico (nem sequer pode ser tida como uma forma de publicidade subliminar), mas quem noticiou, por certo de boa fé, só viu os saltos para a água.

Enquanto João Miguel Tavares discursava em Portalegre

Ensinamentos

 

Estava a gostar, Senhor Presidente? Estavam a gostar, meus senhores? Enquanto João Miguel Tavares discursava, em Portalegre, nas comemorações do 10 de Junto, os rostos estavam assim.

 

 

Depois de João Manuel Gaspar Caraça (2016), Manuel Sobrinho Simões (2017), Onésimo Teotónio Almeida (2018). O Presidente da República convida, para Presidente da Comissão Organizadora das Comemorações do 10 de Junho, dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, João Miguel Tavares.

O Senhor Presidente terá gostado do discurso do seu convidado? Não o queria mais a seu lado? à sua maneira?

 

Eu abaixo assinado. Perdão. Eu abaixo assinada. A Mariana corrigiu

Coisas pequenas. Coisas pequeninas, mas…

 

Tomavam posse os novos ministros do Governo de António Costa. Um a um, como é costume, foram sendo chamados pelo nome. Chegou a vez de Mariana Vieira da Silva.

Quando se inclinou para ler as linhas do juramento, o que estava escrito não correspondia ao género da Mariana. Ela leu: “Eu, abaixo assinado” e rapidamente corrigiu: “assinada”.

Lá no seu lugar de protocolo o Senhor Presidente da República sorria.

A Mariana corrigiu
Imagem: Presidência da República

Calças rotas, botas cambadas, boina esfarrapada. Antero, pastor

COISAS TRISTES

De calças rotas, botas cambadas, boina esfarrapada, Antero, pastor, recebe os militares da GNR que o presenteiam com um cabaz de Natal, que o ajudará a passar as festas com um pouco mais de comida. De conforto não se pode falar. No cabaz falta uma habitação para o ser humano, mas a bolsa dos militares não chega para tanto. Mas então e os políticos deste país, a Igreja, as misericórdias, os que tem dinheiro, todos nós que nos compadecemos com a miséria fora de portas, não conhecem? Não conhecemos? Estas vidas miseráveis.

Quando Antero vira as costas aos militares as câmaras da televisão entram em casa com ele e mostram, a nós e ao Mundo, a miséria em que vive este português. A televisão não emitiu outros casos assim, de tanta carência, mas sabe-se que eles estão por aí, quase sempre escondidos e esquecidos daqueles que tinham o dever legal de não deixar proliferar situações de indignidade.

Senhor Presidente da República talvez resida na sua chamada de atenção a possibilidade de pessoas como o Senhor Antero se tornarem visíveis a quem efetivamente tem o dever de não deixar portugueses viver assim em 2018.

Francamente senhor ministro da Solidariedade e Segurança Social, os olhos dos seus serviços não deviam ver estas situações que tornam os serviços públicos incompetentes e desumanos? Francamente senhores deputados eleitos pelo círculo eleitoral de Castelo Branco: Hortense Martins e Eurico Brilhante Dias do PS; Manuel Frexes e Álvaro Batista da Coligação Portugal à Frente – PPD e CDS, não deviam estar próximos dos vossos eleitores e fazer o que vos compete para que o Senhor Antero, e outras pessoas igualmente necessitadas, vivessem de uma forma mais concernente com a de seres humanos?

 

sicnoticias.sapo.pt – VEJA AQUI A RREPORTAGEM DA SIC

 

 

Senhor Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa

Estava a ser tudo ligeiro, os dias do Senhor Presidente eram light. Falava pelos cotovelos à comunicação social. Não se retraia. As selfies estavam sempre disponíveis. O senhor Presidente vivia feliz e nós, os portugueses, estávamos felizes com ele.

Claro que estava a cumprir as suas funções constitucionais. A nós, aos portugueses, fazia-nos falta um Presidente assim.

Mas não há bem que sempre dure. O Senhor Presidente da República sofreu com os que sofreram nos incêndios de Pedrógão Grande. A tragédia foi imensa. Os portugueses de lá, de Pedrógão Grande, sofreram grandes perdas de vidas e de bens.

O Senhor Presidente esteve lá, voltou e voltou. Os seus olhos encheram-se de lágrimas, de certeza que chorou com aquela gente.

O Senhor Presidente, que já era outro por causa de Pedrógão Grande, continuou a mudar à medida que se embrenhava mais no país real. No país onde se roubam armas de guerra dos paióis militares, que estavam à guarda de homens de que o senhor Presidente da República é o Chefe Supremo. Este acontecimento deve tê-lo feito passar da tristeza à raiva.

O Senhor Presidente já não é o mesmo que andava sorridente nas ruas e respondia a todos os banhos de multidão. Mas aquele Presidente da República faz falta a este País. Volte Senhor Presidente.

presidente em pedrógão

Foto: Paulo Cunha (Lusa).

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