HISTÓRIAS
Uma criança ainda sem altura para ver a rua pela janela foi deixada num autocarro, sem comida, sem água e nem um adulto por perto.
Sou um menino de três anos. Fiquei dois meses em casa com os meus pais por causa da Covid-19. Saibam que adorei, mas queria voltar à minha escolinha para brincar com os meus amigos e com a minha professora. No dia em que regressava adormeci e quando acordei estava preso ao banco do autocarro. Não via os outros meninos. Não ouvia vozes. O autocarro estava parado. Fiquei tanto tempo sozinho. Tive tanta fome e tanta sede. Chorei, adormeci, acordei e tornei a chorar. Pensava que os meus pais já não me queriam, até que os vi outra vez. Prendi-me aos seus pescoços e tão cedo não os vou largar.
Agora ouço tanta gente dizer que me encontraram “bem e tranquilo”. Quem se atreve a dizer isso?
Francamente senhor presidente da Câmara Municipal de Rio Maior. Francamente senhores jornalistas que foram repetindo a lengalenga do autarca que, eu, “a criança estava bem e tranquila”. Um qualquer de vocês experimente ficar amarrado a um banco de um autocarro sem de lá poder sair, sozinho sem saber onde está, sem comida e sem água durante mais de oito horas, mesmo sendo adulto, vejam se ao fim desse tempo estão tranquilos. Pior, eu sou uma criança ainda sem altura para ver a rua pela janela e fui deixado sozinho dentro de um autocarro, sem ter comida, sem ter água para beber, sem um adulto por perto. Têm o desplante de dizer que eu estava tranquilo?
Uma criança de três anos
Imagem: Pixabay
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