Sol na eira e água no nabal

Isso assim seria um milagre. Despedir os trabalhadores quando os lucros diminuem e tê-los de volta com um estalar de dedos isso não era milagre, isso era burrice de quem trabalha.

Quando a Covid-19 se espalhou pelo mundo as pessoas deixaram de viajar e os aviões ficaram em terra. Então os sábios gestores das companhias aéreas, dos aeroportos e os governos dispensaram os trabalhadores. Eles tiveram de fazer-se à vida. Procuraram alternativas para sobreviver.

Hoje todos gostavam de os ter de volta para ajudar a encaixar as verbas que as pessoas estão prontas a repor. E agora quem mandou os trabalhadores embora está a mostrar como a sua gestão foi incompetente e alguns deles estão a deixar os cargos. Ao que tudo indica não se trata só de falta de trabalhadores, muitas outras falhas estão a ser enunciadas por especialistas.

Quando os voos são suprimidas as pessoas transbordam nos aeroportos e ficam entregues a si próprias. Os seus direitos não são respeitados. Os governos fazem orelhas moucas e os responsáveis das empresas dizem que lhes faltam trabalhadores e estes aproveitam e fazem greves reivindicando melhores condições de trabalho e salários mais justos. A estes, quem lhes pode levar a mal? Quando a crise se instalou foram os primeiros a senti-la.

Sol na eira e água no nabal era assim que os gestores das companhias aéreas gostavam que acontecesse. Isso assim seria um milagre. Despedir trabalhadores quando os lucros diminuem e tê-los de volta com um estalar de dedos isso não era milagre, isso era burrice de quem trabalha.

Imagem: agência Lusa

Barco de pesca versus navio cruzeiro

Portugal

Um navio cruzeiro com cerca de 4200 pessoas a bordo entrou no porto de Lisboa com 52 infectados pelo SarsCov2.

Acabo de ler na Lusa que as pessoas que testaram positivo para a Covid-19 foram colocadas de quarentena em hotéis da cidade. As restantes, mais de 4000, foram autorizadas a sair do navio.

Também li na Lusa que, em Viana do Castelo, no dia 30 de dezembro os pescadores, que faziam quarentena desde o dia 19, foram autorizados a sair do barco, depois de testarem negativo para a Covid-19.

Mais palavras para quê?

Ganharam com a Covi-19?

Os carros grandes cresceram. As suas dimensões estão maiores. Em número não sei, mas que o seu tamanho afronta os pequeninos que se encolhem entre eles não tenho dúvidas.

Foi a doença destes quase dois anos? era a isto que se referia o secretário de Estado que foi à Europa dizer que Portugal ganhou com a pandemia?

Imagem: Desobrigado.com (estacionamento do Amoreiras Plaza, Lisboa, Portugal)

Ânsia de mandar?

Sr. Presidente da República, as suas presidências deviam estar a ser um passeio por caminhos rodeados de árvores frondosas e de água a deslizar de cascatas – com viagens, condecorações de agradecimento pelas conquistas para o país, muitas selfies com gente risonha, mergulhos em mar aberto e em albufeiras de água doce. Em vez disso, transformaram-se numa maratona corrida em estradas repletas de escolhos. Eu até lhe diria que tem percorrido, com os portugueses, o caminho das pedras.

Hoje já nem tanto, mas houve tempo em que o seu rosto expressava o seu sofrimento e, por conseguinte, o de todos os cidadãos portugueses. O SARSCov-2 fez adoecer até quem não chegou a ficar infetado.

Foi então que, sem mais quê nem porque não, o Sr. Presidente da República resolveu mostrar-nos aquele seu outro lado, desconhecido de muitos de nós. Fez um rombo naquela sua imagem cativante. Agora vai tentando corrigir o buraco redondo cosendo-lhe um remendo quadrado. Tem feito algumas tentativas como foi aquela quando recebeu a seleção portuguesa de futebol, que tinha sido arredada do Euro 2020, dizendo que também já esteve mal na política. Pareceu-me que, mais uma vez, estava a querer editar e corrigir aquela brecha. Mas o que estava dito estava dito. O Presidente quase jurara a pés juntos que no que de si dependesse as medidas de restrição contra a Covid-19 não seriam repostas. O que ecoou nos ouvidos de muitos portugueses como um grito ofensivo.

Veja que as pessoas, possivelmente entendendo mal, baixaram a guarda.Os números de infetados e de internados com doença grave têm crescido todos os dias. Muitas pessoas continuam a sofrer. Muitas vidas continuam a ser perdidas.

Ontem, a Lusa noticiou que a ministra da saúde, Marta Temido, disse que o Governo tem projeções que apontam para mais de 4000 infeções diárias nas próximas semanas. Hoje, já há notícia de mais 3285 nivos casos de infeção pelo SARSCov2. O que diz a isto Sr. Presidente da República?

Imagem: página oficial da Presidência da República

Esperando sentados pela vacina contra a Covid-19

Ponto de vista

Quando as vacinas são a luz ao fundo do túnel escuro que este maldito vírus nos faz percorrer, estamos a ficar impacientes, inquietos, exasperados, descontentes e fartos de sermos ultrapassados pela esquerda e pela direita, pelos prioritários legais e muito mais pelos ilegais e legais de última hora.

Foi uma das pessoas impacientes que me perguntou quando começava a segunda fase da vacinação e eu respondi-lhe que não sabia. Vendo bem, até sei. 

A segunda fase começa quando forem vacinados todos os profissionais de saúde, todos os profissionais do ensino, todas as pessoas com 80 ou mais anos, todas as pessoas com 50 ou mais anos e com doenças associadas, todos os bombeiros, todos os profissionais das forças da ordem, todos os políticos que queiram ser vacinados, todas as pessoas entre os 40 e os 60 anos (proposta de cientista ontem no Infarmed (1)) e outros que ainda reivindicarão a exceção.

Os saudáveis e bem-comportados cidadãos com mais de 65 anos e menos de 80, que sobrarem depois de tantas exceções, podem esperar sentados pela sua vez. Até porque ainda falta vacinar as pessoas da terceira fase, que será constituída por aqueles que têm 39 anos ou menos e, entretanto, podem passar a ser prioritários.

(1)

Ontem ouvi duas intervenções de cientistas na reunião do Infarmed que me irritaram um pouco, diziam mais ou menos isto, cito de memória: 

“Os internamentos hospitalares dos meses de janeiro e fevereiro foram, na sua maioria, de pessoas com idades entre os 40 e os 60 anos, portanto as pessoas deste escalão etário devem ser vacinadas”; 

“As pessoas de idades entre os 65 e os 80 anos são as que mais cumprem as regras do confinamento e sanitárias”. 

Ora aí está, cria-se mais um grupo prioritário, já que as pessoas que deviam entrar na segunda fase (idade igual ou superior a 65 anos) são muito bem-comportadas, podem esperar.

Deixaram-me oito horas sozinho à fome e à sede

HISTÓRIAS

Uma criança ainda sem altura para ver a rua pela janela foi deixada num autocarro, sem comida, sem água e nem um adulto por perto. 

Sou um menino de três anos. Fiquei dois meses em casa com os meus pais por causa da Covid-19. Saibam que adorei, mas queria voltar à minha escolinha para brincar com os meus amigos e com a minha professora. No dia em que regressava adormeci e quando acordei estava preso ao banco do autocarro. Não via os outros meninos. Não ouvia vozes. O autocarro estava parado. Fiquei tanto tempo sozinho. Tive tanta fome e tanta sede. Chorei, adormeci, acordei e tornei a chorar. Pensava que os meus pais já não me queriam, até que os vi outra vez. Prendi-me aos seus pescoços e tão cedo não os vou largar.

Agora ouço tanta gente dizer que me encontraram “bem e tranquilo”. Quem se atreve a dizer isso? 

Francamente senhor presidente da Câmara Municipal de Rio Maior. Francamente senhores jornalistas que foram repetindo a lengalenga do autarca que, eu, “a criança estava bem e tranquila”. Um qualquer de vocês experimente ficar amarrado a um banco de um autocarro sem de lá poder sair, sozinho sem saber onde está, sem comida e sem água durante mais de oito horas, mesmo sendo adulto, vejam se ao fim desse tempo estão tranquilos. Pior, eu sou uma criança ainda sem altura para ver a rua pela janela e fui deixado sozinho dentro de um autocarro, sem ter comida, sem ter água para beber, sem um adulto por perto. Têm o desplante de dizer que eu estava tranquilo?

Uma criança de três anos

A Covid-19 não deixa sequelas em jogadores de futebol?

Os jogadores são jovens, mas são seres humanos que estiveram doentes ou, pelo menos, o vírus SarsCov2 invadiu os seus corpos.

Este não é o meu treinador. Umas vezes faz-me rir e outras até me envergonha. 

Mas, e se Jesus tiver razão? E se os seus jogadores estiverem mesmo a sofrer sequelas graves causadas pelo SarsCov2? Não vão prestar-lhes a devida assistência médica? Até acredito que nem os próprios jogadores admitam que ainda estão doentes. Disseram-lhes que a doença tinha passado e que estavam aptos para o seu trabalho. Eles até dizem que a sua obrigação é empenhar-se em ganhar jogos. Está à vista que não conseguem.

Eu já ando com vontade de fazer estas perguntas há algum tempo, na esperança de que alguém vá à procura de respostas, no sentido de se saber se pode ou não o rendimento dos jogadores de futebol do Benfica estar a ser diminuído por causada Covid-19?

Todos sabemos como a recuperação pode ser um tormento para quem esteve doente, por experiência própria ou porque ouvimos pessoas que estiveram infetadas. Muitos doentes e, mesmo os assintomáticos, queixam-se, no mínimo, de algumas debilidades. Os cientistas corroboram e acrescentam que muito ainda está por saber sobre as consequências da doença. 

Os profissionais de futebol são seres humanos como os outros. Uns sofrem mais com a doença e outros sofrem menos. As sequelas podem acontecer seja a quem for. Por isso, Jorge Jesus até é capaz de ter razão. Ele sabe do que fala. Esteve gravemente doente. Os jogadores do Benfica podem estar, ainda, com as suas capacidades físicas e psicológicas diminuídas.

É certo que os jogadores são mais jovens, mas continuam a ser seres humanos que estiveram doentes ou, pelo menos, o vírus SarsCov2 invadiu os seus corpos.

Se o Sport Lisboa e Benfica não tivesse medo de desvalorizar os seus ativos preciosos, que são os jogadores de futebol, já teria pedido a investigadores que estudassem os elementos da sua equipa que estiveram infetados, e foram muitos. Eles podem mesmo precisar de tratamento específico para cada um.

Jesus irritou-se com o buzinão junto ao estádio da Luz. O treinador gostava de ter a solidariedade das pessoas e, por maioria de razão, dos adeptos. Eu creio que tem. Aquela manifestação de desagrado foi obra de umas dezenas de tolos, que só se representam a eles próprios. São uma gota de água no oceano que é o conjunto dos adeptos do Benfica. 

Já nem a morte os assusta

Os portugueses parecem alheadas de uma doença que está a matar pessoas às centenas todos os dias. Como tanto mudou na perceção do perigo. Há menos de um ano, quando ocorriam duas os três mortes soavam todos os alarmes. Que mais terá de ser feito para que as regras sejam respeitadas.

Mais 150 mortos, mais 150 mortos, mais 150 mortos, mais 150 mortos, mais 150 mortos por Covid-19. O som destes números diários devia matraquear as consciências, tanto daqueles que infringem as regras como daqueles que as estabelecem.

O Primeiro-Ministro foi anunciando, aos poucos, que íamos entrar em confinamento (ia ouvir os partidos políticos, ia ouvir os cientistas e mais isto e mais aquilo…) e ontem decretou maior limitação à liberdade de movimentos das pessoas. Neste intervalo de tempo quantas pessoas mais terão sido infetadas pelo SarsCov2? Muitas já terão testado positivo. Enquanto isso, quantas assintomáticas terão andado por aí a espalhar o vírus. Senhor Primeiro-Ministro, senhor Presidente da República, senhores líderes partidários, estou furiosa com todos, já que todos concordaram em aligeirar as medidas restritivas na quadra natalícia. 

O Primeiro-Ministro, na comunicação de ontem, mostrou-se agastado com a indiferença que reina entre os portugueses em relação às mortes que têm ocorrido em Portugal. Neste campo, estamos de acordo, perdem-se 150 vidas todos os dias, quando, muitas delas, podiam e deviam ser poupadas. Enquanto a Comunicação Social vai contribuindo para a banalização, noticiando com tamanha ligeireza que até parece que as pessoas já nem querem saber.

É verdade. Estou furiosa com os políticos portugueses e com as pessoas que não cumprem as regras sanitárias. Ainda estou mais irritada porque já se começa a noticiar, de “raspão”, como ouvi ontem a ministra da Saúde dizer, no seguimento da reunião com os seus pares da União Europeia, que as vacinas que deviam chegar até ao fim do primeiro trimestre estão atrasadas. Isto fez-me lembrar a compra dos ventiladores, com exigência de pré-pagamento e que foram entregues como todos nos recordamos.

Menos restrições, mais mortes e as vacinas ali tão perto

A celebração do Natal, em família mais alargada, deu nisto, quando devíamos ser pacientes e muito cuidadosos nas nossas vidas diárias. É mesmo “morrer na praia”.

Nesta vaga, Portugal está à frente de muitos países europeus nos números de contagiados e de mortes por Covid-19. Olhemos para Espanha, para França, para Itália, para a Alemanha, para o Reino Unido e vejamos os milhões de habitantes e os números dos infetados e dos mortos. Se fizermos as devidas proporções concluiremos que os nossos números são maiores, francamente maiores. 

Já era sabido que o SarsCov2 aproveitava todas as aberturas às restrições de contatos para infetar as pessoas, mas os governantes tinham de dar o seu ar de bonzinhos. Deixaram celebrar o Natal em família mais alargada. Recomendaram que se ingerissem as refeições rapidamente longe uns dos outros e se colocassem as máscaras como se fossemos robôs.

Tanta generosidade deu nisto: mais infeções, mais doentes, mais internados, mais mortos e as vacinas ali tão perto. 

O Primeiro-ministro já não é virtual

Pequenas grandes notícias

O Primeiro-ministro de Portugal já não é virtual. Fez teste que deu negativo. Termina hoje o confinamento profilático de 14 dias. Ele esteve em contacto com Macron, chefe do Estado francês, que estava infetado com a Covid-19 e as autoridades de saúde determinaram o isolamento. 

Aos trabalhadores da TAP espera-os o desemprego. Aos administradores da empresa espera-os mais dinheiro nas contas bancárias ao fim do mês. O Governo diz que poupa dinheiro, mas estas pessoas chegam a ter cem por cento de aumento salarial. Um deles prescinde do aumento, mas tinha aceitado.

Os Países Baixos adiam a vacinação, dizem que é por questões de segurança. Querem crer para querer.

O Reino Unido saiu da União Europeia, mas os seus profissionais da cultura pretendem circular livremente. Fizeram uma petição para que tudo fique igual à época anterior ao Brexit. Ainda vamos saber que ninguém votou a favor da saída naquele referendo.

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